O ano todo amarelo

Nathaly Corrêa
Inoversidade
Published in
4 min readOct 16, 2016

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Prazer, nós somos a geração do “eu mereço”. Crescemos ouvindo que temos que correr atrás da nossa felicidade e que devemos conquistar nosso lugar ao sol. Não nos ensinaram a aceitar o fracasso e nem a compreender as derrotas. Chegamos a achar que tudo o que nossos pais fizeram por nós nos garantiria algo de bom no futuro, afinal, fizemos por merecer.

Quando eu entrei no meu ensino fundamental, todo mundo me dizia que lá seria chato, cheio de regras, o legal seria meu ensino médio em que não era obrigatório uniforme na minha escola. Então eu parei de acreditar que meus anos no fundamental seriam bons e passei a almejar muito chegar ao ensino médio. E, finalmente, ao chegar, me falaram que o ensino médio não seria bom. Você tinha que escolher a sua profissão. Teria algo mais difícil? (E como eu sei disso…) O legal mesmo é a faculdade, me disseram. Serão os melhores anos da sua vida, também me disseram. Você terá tempo de sair e se divertir, faculdade é muito legal.

Então eu já não achava mais que o ensino médio seria bom e fiquei ansiosa para chegar logo na faculdade. Já até sabia em qual queria estudar. Estava me sentindo importante por isso. E eu finalmente cheguei. Mas algo mudou.

Ao entrar na faculdade, ninguém me falou que depois que eu saísse seria melhor, pelo contrário. Me falaram que depois da faculdade ficava tudo um caos. Imagina só você se formar e não ter emprego? E agora? Depois de todos esses anos querendo ser adulto? O que eu faria agora?

Para piorar, descobri que não gostava tanto do meu curso. Eu tive que escolher com 17 anos. Agora já não me achava tão madura para ter tomado aquela decisão. Aí eu me desanimei. Minhas matérias eram uma tortura para mim, nada daquilo fazia sentido. Ainda assim meus pais sentiam orgulho no almoço de domingo. A família toda sentia, menos eu. Eu achei que estava desperdiçando 4, 5 anos da minha vida. Ninguém me ensinou a lidar com os erros. A vida é cheia deles.

Que graça teria se a gente não pudesse errar para levantar e seguir em frente? Acontece que muita gente na faculdade sente que não está feliz com o que faz e com a nossa infelicidade nos desestimulamos. Nós nos esquecemos que nunca é tarde, porque também somos a geração do “Agora”. Eu tenho que acertar agora, escolher agora, fazer agora. Amanhã já será tarde… será?

Além de que não concordamos com a metodologia da faculdade. Parece que ela parou no tempo. Às vezes acho que quem estudou com a idade dos meus pais teve as mesmas aulas que eu, aprendeu da mesma forma. A tecnologia avançou muito rápido, mas parece que não chegou na sala de aula e nos laboratórios.

Como se não bastasse toda essa estrutura ruim, falta de investimento, de verba, de representatividade e de aceitação, ainda sentimos pressão e cobrança excessiva para sermos bons profissionais, bons pais, mães, filhos, namorados, bons em tudo, porque hoje em dia tem que ser assim, senão não está preparado para vida, onde só os melhores vencem, me ensinou a meritocracia.

Então a gente junta a frustração por não se identificar com o curso, a falta de apoio da universidade, a cobrança nossa de cada dia, da família, da mídia, da sociedade e do mercado de trabalho e o que nós temos? As manchetes anunciam que a depressão é o mal do século e será a doença mais comum do mundo em 2030, segundo a OMS. Quantas pessoas conhecemos que já não passaram por isso? Quantas na universidade? Quantas no trabalho? Estão nos impondo um padrão que devemos seguir, mas que não necessariamente é o melhor para nós. E se somos a geração que quer lutar por propósito e que acredita na felicidade, por que isso continua tão difícil? Deixo esse questionamento para vocês!

Eu faço engenharia e encontrei sentido na educação e no empreendedorismo. Meu curso não foi inútil, muito pelo contrário, mas eu decidi buscar outras coisas que me fizessem bem e a maior delas foi participar de projetos na universidade e fora dela, pois o meu foco era conhecer gente que assim como eu estava inconformada e queria pôr a mão na massa para mudar o futuro.

Essa é a minha história. Qual é a sua? O que já estamos fazendo para mudar isso? Se nada, ainda temos tempo. Nunca é tarde pra (re)começar! Caso tenha feito sentido para você, nos conte nos comentários. Juntos somos mais fortes!

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