Propositalmente colateral

Como garantir a aprendizagem das soft-skills?

Adauto Braz
Inoversidade

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Resposta curta: As instituições de ensino deveriam estruturar os currículos estabelecendo atividades e projetos que garantam a aprendizagem paralela das soft-skills.

Acompanho de perto o panorama do ensino superior mundo afora e venho percebendo um tema recorrente: a aparente fraca formação dos recém-graduados no campo das soft-skills. Há um clamor do mercado por indivíduos que não só tenham conhecimentos técnicos, mas também sejam capazes de se comunicar efetivamente, trabalhar em grupo, pensar criativamente e raciocinar criticamente.

Dentro do contexto universitário, muitas destas capacidades surgem como efeito colateral do envolvimento em atividades extracurriculares, por exemplo. Por conta disso, dado que não há diretrizes institucionais acerca destas, tudo fica muito dependente do caminho que o aluno percorre.

Frente ao problema — que já preocupa organizações internacionais, como o World Economic Forum — a resposta de grande parte das instituições tem se resumido no geral a enfatizar a importância destas habilidades ou então criar aulas que tenham por fim ensinar essas habilidades. E aí temos um problema.

Por quê?

Porque o desenvolvimento dessas habilidades não deve ser restrito a uma matéria no currículo. Para de fato desenvolvê-las, é preciso muito mais do que uma aula de slides teórica ou uma dinâmica de grupo de dez minutos. Faz-se necessário empregá-las constantemente em situações do dia-a-dia, pois só a teoria nunca é suficiente para desenvolver uma capacidade essencialmente prática.

É tendo que realizar um trabalho em grupo que você aprende a lidar melhor com pessoas. É tendo que tomar uma decisão num projeto que se aprende a fazer análises complexas de cenários. É tendo que convencer uma plateia da importância do que você tem a dizer que se desenvolve capacidade comunicativa. E por aí vai.

É óbvio que conhecer previamente técnicas e métodos pode te ajudar muito, mas, no geral, isso não é suficiente. Você precisa ter espaço pra exercitar essas habilidades.

E é por isso que apenas quando os currículos forem criados tendo o desenvolvimento dessas habilidades em mente é que de fato o discurso de que a faculdade “se preocupa com a formação o holística dos alunos” deixará de ser vazio.

Vou além, para levar o desenvolvimento das soft-skills a um novo patamar, é preciso ainda mais. Toda aprendizagem demanda um processo de reflexão. No geral, ao discutirmos essas habilidades perdemos ao não realizar esse momento de reflexão. Afinal, entender o porquê da sua apresentação de PowerPoint ter feito todo mundo dormir certamente pode te ajudar a melhorar na próxima, certo?

Garantir esses espaços de reflexão, em que um pouco de conhecimento teórico pode de fato trazer um entendimento mais estruturado, é essencial para garantir um constante processo de autoanálise e, assim, um constante refinamento dessas habilidades tão essenciais para qualquer profissional no século XXI.

Aceitar que novos tempos demandam da universidade um novo tipo de formação para os alunos é o passo inicial para mudar o foco de conteúdos — cujo acesso tem se tornado cada vez mais fácil — para habilidades — que são bem mais difíceis de serem desenvolvidas sem o apoio e o suporte que um ambiente universitário é tão capaz de propiciar.

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