É possível engajar 700 pessoas online por 4h falando sobre processo seletivo? — Parte I

Lili Fonseca
InPeople

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Facilitar treinamentos e dar aulas é uma das partes que mais gosto do meu trabalho, mas poucas pessoas sabem tudo o que está por trás de uma condução leve e bem-humorada. Um dos desafios que 2022 trouxe para a InPeople foi um projeto de descentralização, onde nosso papel foi entender o negócio, construir materiais e ferramentas de seleção, e treinar 700 lideranças para realizarem processos seletivos de forma autônoma. Em turmas online com 4 horas de duração.

QUATRO HORAS DE TREINAMENTO ONLINE? — possivelmente um dos piores pesadelos do trabalho remoto.

“Mas, Lili, não dava pra ser presencial?” — Estamos falando de pessoas espalhadas pelo Brasil todo e um cronograma que precisava ser cumprido em pouco tempo. Nenhuma novidade nessa parte, né?

Com cerca de 25 turmas, dividimos os participantes em grupos de 30 pessoas — o que já é um número alto para encontros online — e construímos uma experiência que tem dado tão certo que eu acordei hoje às 6h38 e vim para o computador contar para vocês como fizemos isso acontecer e alguns feedbacks que ouvimos nos mostrando que escolhemos o caminho certo.

O básico: planejamento

O projeto começou alguns meses atrás com uma imersão muito profunda no negócio e principalmente nas pessoas que receberiam o treinamento. Conhecer sua audiência, suas necessidades e seu perfil é a chave para construir não só o conteúdo, mas também entender que estilo de facilitação e atividades vão manter seu público engajado. Se apropriar da linguagem e da cultura (saudades das aulas de antropologia da faculdade) é fundamental para gerar conexão com o público e gerar credibilidade para quem fala.

O que ouvimos: “Parece que vocês já trabalham aqui dentro há anos.”

Construa ferramentas para depois

Mesmo o melhor treinamento do mundo pode cair no esquecimento no dia seguinte se as pessoas não tiverem a necessidade de aplicar o que aprenderam e se não houver ferramentas que apoiem a aprendizagem contínua. Como parte do projeto, criamos roteiros, manuais e instrumentos que ajudam os participantes a lembrar e colocar em prática o que foi dito. Um toque interessante: uma parte dos materiais é enviada antes do treinamento, criando uma expectativa positiva e permitindo que as pessoas cheguem com algum nível de conhecimento, e a outra é apresentada ao vivo, gerando curiosidade e interesse.

O que ouvimos: “Já posso usar hoje?”

Diversão, o meu inegociável

Quem me conhece sabe que um dos meus valores é a Diversão. Eu realmente acredito que o trabalho pode ser feito com leveza, risos e ainda assim ser profundo e trazer resultados. Se eu vou colocar 30 pessoas para ficar 4h olhando para uma tela que seja no mínimo divertido, porque é como eu gostaria que fizessem se fosse comigo. Além das atividades, a condução precisa trazer a energia e a descontração que vão gerar conexão com as pessoas, permitindo que elas se divirtam com você — e para isso, é claro, a pessoa que estiver facilitando precisa ter um enorme domínio do assunto. Já ouviu falar que é preciso de inteligência para fazer humor de qualidade? A regra é a mesma aqui.

O que ouvimos: “Porque todos os treinamentos não são assim?!”

Jogue o jogo

Poucas atividades alcançam níveis e tempo de engajamento tão altos quanto jogar. Criar dinâmicas que instiguem as pessoas a pensar, as façam vivenciar o conteúdo e estimulem a participação contínua é chave para a aprendizagem do adulto. Nesse caso, estamos trabalhando com um time tão competitivo que além de uma dinâmica intensa de pontuação ao longo do treinamento, criamos uma competição entre turmas, com um recorde a ser batido — um prato cheio para quem trabalha com metas no dia a dia.

O que ouvimos: “Adorei o método de pontos, vou usar nos meus treinamentos também.”

E jogue sério

Vindo do mundo da gamificação, conheço bem os estigmas que a área enfrenta quando se trata de Serious Games e atividades com jogos em empresas. As pessoas gostam, porque o ser humano é naturalmente um ser lúdico (temos muitas pesquisas e literatura sobre isso), mas há uma barreira cultural que ainda repele esse tipo de atividade como algo infantil. Dizer “agora teremos um joguinho…” ou “como você se sentiu durante a brincadeira…” enfraquece o potencial de aprendizagem e engajamento desse tipo de atividade. Honre o momento divertido o tratando como gente grande. As pessoas vão te acompanhar.

O que ouvimos: “Posso participar da turma de amanhã para tentar pontuar mais?”

Mestres do tempo

Em nossa primeira projeção, após definir atividades e conteúdo, o treinamento tinha uma duração de 6 horas e meia. Foi um exercício intenso de refinamento para manter a densidade certa de conteúdo, garantir interações e atividades que não ficassem apressadas e ainda ter espaço para manobras, atrasos e discussões mais intensas em algumas turmas. No final, chegamos a uma agenda de 3h43 controladas com a mão firme de um ditador, mas conduzidas com uma leveza que quem participa nem percebe o tempo voando. Terminar dentro da agenda proposta é outro inegociável e apoia a construção de uma experiência positiva do começo ao fim.

O que ouvimos: “Mas já?”

Já já tem outra turma começando, então preciso parar de escrever. Ainda quero contar sobre a preparação para o que der e vier, comentar a importância da leitura de ambiente no virtual, da realização de aplicações piloto e mencionar os materiais que a pessoa que conduz usa.

Quer ler a parte II? É só clicar aqui.

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Lili Fonseca
InPeople

Questionando o modus operandi de Comunicação, Desenvolvimento e Gestão de Pessoas do jeito que são feitos até hoje.