Figura na madrugada

Mônica Martins
Insônia de Contos
Published in
2 min readAug 19, 2020
Photo by Durmuş Kavcıoğlu on Unsplash

A noite era silenciosa, somente se ouvia o barulho dos ventos e de alguns poucos carros a passar. Em sua cabeça os pensamentos se agitavam e era como se eles rompessem o silêncio noturno. A casa vazia, somente seu cão lhe fazia companhia, mas esse dormia profundamente. Ele então senta-se do lado de fora da pequena casa geminada. Casa antiga, portão baixo, varanda de caquinhos vermelhos, porta de madeira com uma pequena janela de vidro. Lá dentro a pintura entregava a idade da casa e a falta de manutenção. Nos fundos um pequeno quintal com tanque para lavar roupa, um pequeno coberto e um banheiro. Havia também um poço artesiano, mas esse já seco há muito tempo.

O silêncio noturno é interrompido pelos paços de uma pessoa na rua. Imediatamente seus pensamentos se voltaram para aquele ruído. Quem haveria de estar caminhando essa hora e com esse tempo frio? O barulho se tornava mais alto conforme os passos se aproximavam. Parecia um salto feminino. Enfim ele resolveu se levantar e ir até o portão para observar quem vinha lá. Era uma moça de cabelos escuros, pele bastante clara que destoava da boca bem pintada com um batom vermelho sangue. Ela usava um vestido escuro, casado longo preto, meia calça também preta e um salto alto que ecoava o silêncio da noite.

A figura se aproximava e ele estava completamente imóvel, hipnotizado pelo seu caminhar. Ao passar por ele a mulher continuou caminhando sem mover sua cabeça para olhar para o rapaz parado no portão acompanhando seu caminhar. Ele continuo olhando, quando de repente ela parou e junto com essa pausa o coração do rapaz começou a bater mais rápido, sua respiração ficou ofegante e suas mãos começaram a suar frio. Embora sem entender o que estava acontecendo ele continuava com o olhar fixo naquela figura feminina tão bela e misteriosa. Ela lentamente se virou e fixou seu olhar ao dele. Nesse momento foi como se tudo tivesse simplesmente parado. Como se o mundo ao seu redor não existisse e tudo fosse apenas um espaço oco e quente.

O latido de seu cão o tirou daquele transe. Os primeiros raios solares despontavam no céu. Não tinha mais nenhuma mulher, não tinha mais o mesmo silêncio, os primeiros ônibus começavam a passar. Sem entender ou saber quanto tempo havia se passado ele entrou, fez um café e enquanto se esquentava, tentava relembrar o que havia acontecido até aquele momento. Teria ele desmaiado? Não era possível pois estava parado em pé quando ouviu o latido. E quem era aquela bela mulher? Seria fruto da sua imaginação? Qual o motivo para tudo aquilo? O café acabou e então ele resolveu descansar e quem sabe sonhar com aquela figura tão misteriosa e que tanto mexeu com seus sentidos.

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