3 perguntas sobre inteligência artificial aplicada ao jornalismo com Pedro Burgos
Para além da automação de processos o uso desta tecnologia traz consigo questões éticas importantes, conforme aponta o professor
Não, os robôs não vão roubar o trabalho dos jornalistas. Pelo contrário, a inteligência artificial é um recurso importante para otimizar processos, reconhecer padrões e economizar tempo na apuração e desenvolvimento de produtos jornalísticos.
Pedro Burgos, mestre em Jornalismo Social pela City University of New York e professor do Insper, comenta as aplicações de IA no jornalismo e quais os desafios éticos do uso desta tecnologia. Pedro é professor do Master em Jornalismo de dados, automação e data storytelling do Insper e alerta que a inteligência artificial tende a reproduzir desigualdades do mundo real.
Como a inteligência artificial pode ser aliada na rotina dos jornalistas?
Se você prestar atenção em um jornal diário (digital, papel ou na TV), há sempre um bocado de repetição. Da previsão do tempo às reportagens sobre a pandemia, temos notícias que são, em um nível mais básico, reproduzíveis por programas, dado que seguem uma forma e têm inputs sempre do mesmo tipo. A inteligência artificial pode auxiliar aí, não só no reconhecimento de padrões e pontos fora da curva, por exemplo, mas também na automação de textos e gráficos. Se treinarmos bem programas, jornalistas podem se liberar para realizar o trabalho que exige mais análise, entrevistas e conexões não visíveis à primeira vista.
Em que ponto estamos hoje na aplicação de processamento de linguagem natural para produção de textos?
A tecnologia evoluiu bastante nesse sentido em termos de sintaxe e estruturação de texto. Modelos de linguagem que usam deep learning como o recente GPT-3 conseguem produzir textos quase indistinguíveis do ser humano, particularmente em inglês (há uma ótima reportagem da New Yorker sobre). Por isso, modelos de linguagem natural são ótimos para responder a emails ou resumir um relatório cheio de dados em um texto. Mas a aplicação em jornalismo requer uma análise criteriosa sobre as fontes, e algum tipo de supervisão — a não ser que você queira deliberadamente produzir fake news.
Que questões éticas emergem desse cenário de aplicação de IA ao jornalismo?
Várias. Uma mais imediata é sobre responsabilização. Quanto mais complexa for a programação de um “robô-jornalista”, mais difícil é saber quem ou onde aconteceu o erro, por exemplo. A outra questão relevante é sobre os dados que ajudam a treinar a inteligência artificial. Computadores conseguem transcrever a fala de voz masculina com mais precisão que a feminina em parte porque homens estão super-representados nos arquivos de áudio que alimentaram o programa que cria legendas do Youtube, por exemplo. Há vários exemplos como este em que a inteligência artificial tende a reproduzir (e ajudar a perpetuar) desequilíbrios do mundo real. Entender como o aprendizado de máquina funciona e quais as suas limitações é uma habilidade essencial para qualquer pessoa que quiser construir soluções usando essas tecnologias.
Para saber como usar a inteligência artificial para potencializar o seu trabalho, faça parte da primeira turma do Master em Jornalismo de Dados, automação e storytelling do Insper.