3 perguntas sobre narrativas imersivas com Eduardo Acquarone

Luiza Bodenmüller
Insper Jor
Published in
3 min readJun 25, 2021

Projetos imersivos podem conquistar a confiança do público no jornalismo e devem levar em conta gargalos como a falta de acesso à internet

Equipamentos complexos não são mais primordiais para criar narrativas imersivas: o aprimoramento da tecnologia torna viável a oferta de imersão inclusive em celulares. A imersão é um recurso que altera a perspectiva do público e, ao colocá-lo em primeira pessoa diante da notícia, tem impactos positivos sobre a compreensão sobre determinado tema e a confianças nas informações que estão sendo transmitidas.

É o que sugere Eduardo Acquarone, doutorando em Comunicação no Iscte em Lisboa e fundador da Flying Content, com quem conversamos sobre os desafios no desenvolvimento de narrativas imersivas. Eduardo é professor do Master em Jornalismo de dados, automação e data storytelling do Insper

Como as narrativas imersivas podem ser um diferencial em projetos jornalísticos?

Vivemos uma era onde passamos a duvidar de tudo — manipulações de um lado, desinformação do outro. Empresas jornalísticas e jornalistas independentes precisam, mais do que nunca, estabelecer uma relação de confiança com o público. Nesse sentido, narrativas imersivas podem ser um bom caminho. Ao estar inserida em um ambiente em que se possa ver a notícia em primeira pessoa, a audiência poderá entender contextos e outros aspectos que cercam a notícia, e, com isso, aumentar a confiança de que aquilo é verdadeiro. Ao mesmo tempo, é preciso que a construção de ambientes imersivos seja feita de modo claro, com critérios éticos bastante rígidos.

De que forma tecnologias como assistentes virtuais e internet das coisas têm sido utilizadas em narrativas digitais?

Temos vários exemplos de reportagens investigativas que usam dados coletados por sensores — de poluição, trânsito, ambientais, etc. Esses dados, analisados sob o olhar jornalístico, podem trazer uma nova dimensão para algumas reportagens. Os assistentes virtuais funcionam como uma forma mais natural — através da voz — de interagirmos com o nosso ambiente, incluindo notícias. Temos, no entanto, que nos preocuparmos com a oferta de notícias nesses aparelhos, e se não iremos privilegiar apenas uma ou duas fontes de informação, ao contrário de um ambiente mais aberto como a Internet.

Como pensar a audiência de projetos de imersão num país como o Brasil em que há desigualdade também na distribuição e acesso à internet?

Alguns aspectos da imersão estão chegando aos celulares, aparelhos bem mais comuns do que headsets de Realidade Virtual, por exemplo. Mesmo assim dependem de uma boa conexão à Internet e de um pacote de dados disponível. Alguns gargalos irão permanecer por causa da má distribuição de renda do país, mas é possível termos projetos em que as empresas ofereçam imersão em ambientes públicos, propiciando o contato de amplas parcelas da população com essa nova tecnologia.

Para saber como desenvolver narrativas imersivas amparadas por princípios éticos, faça parte da primeira turma do Master em Jornalismo de Dados, automação e storytelling do Insper.

--

--