A Consciência Grita

Rosa Scarlett
Literatura e Cinema
3 min readNov 20, 2021

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No dia da consciência negra, fiquei pensando no poder da consciência, essa potência que aflora do inconsciente, ganha vida e quer se expressar como se tivesse um megafone nas mãos. Depois de ter consciência de algo, fica difícil fingir que aquilo não existe ou deixar passar em branco um momento de se posicionar. Penso no drama das pessoas que tem a consciência pesada, pois agem de forma contrária ao que entendem. E pela incoerência na forma de agir, acho que elas devem ficar com gritos dentro da cabeça ou com sussurros perseguidores, típicos de filme de terror.

Pensar na consciência negra, me faz pensar nas cores e nos seus significados. Estudiosos e pessoas que trabalham com terapias alternativas dizem que verde é a cor do equilíbrio, da esperança e branco tem um forte significado de paz. E qual o significado do preto? É muito interessante que preto é a ausência de luz, mas no livro “Luz Emergente” de Barbara Ann Brennan encontramos definições para o preto que mostram um sentido de profundidade, da vida que ainda não se manifestou e que por isso auxilia na concentração e na criatividade.

O preto também tem um significado social de poder, que nos lembra de movimentos sociais, de roupas de festas luxuosas e da toga de juízes. Mas quando se pensa que mulheres e homens negros foram escravizados e que o racismo ainda vive entre nós, essa cor não traz a imagem do poder. Então vale a pena mencionar que existem muitos tipos de poder, inclusive o da consciência.

É interessante perceber que a formação da consciência está profundamente relacionada à sociedade em que se vive, mas que ao mesmo tempo é algo que ocorre no indivíduo. Isso me faz pensar na liderança de Zumbi dos Palmares e que ainda hoje, com toda a nossa herança histórica e cultural, muitas pessoas dizem que o racismo não existe.

Então, de um lado vemos pessoas explodindo em gritos conscienciais com ações e propostas transformadoras e de outro vemos pessoas negando a desigualdade étnica e social, como se ela não existisse. E dessa forma, as pessoas devem ficar mais confortáveis, achando que o mundo é bem melhor.

Eu também queria que muita coisa não existisse, queria acreditar que não existem assassinatos, nem insônia, nem mosquitos, nem spoilers do filme que estou louca para ver. Mas mesmo assim, eles continuam existindo.

Dessa forma, não tem como pensar no dia da consciência negra, sem pensar em escravidão o que me remete aos gritos, gritos de dor, de saudade, de tristeza e da imposição de se recriar. E os povos africanos e seus descendentes contribuíram para criar novos países, cunhados pela dor, pela sabedoria de quem convive com a natureza, pela resistência de manter tradições e pela imensa capacidade humana de criar o belo.

O filme Pantera Negra foi para nós negros uma grande oportunidade de pensar como seria hoje, se tudo tivesse sido diferente. Foi uma produção que mostrou uma outra possibilidade de ver o continente africano, com sua própria beleza, mas também com tecnologia e sem os tipos de dominação tão familiares para nós.

Para além do mundo da ficção, a data de hoje me lembra de grandes mulheres e homens que trazendo na pele a cor do poder e do vir a ser, gritaram e gritam com belíssimas ações contribuindo para a transformação da nossa história.

Rosa Scarlett

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Rosa Scarlett
Literatura e Cinema

Sou apaixonada por cinema e amo escrever. Acredito que as histórias podem trazer novos significados para a vida e contribuem para transformar o mundo.