Você acredita em alma gêmea?
Será que algum deus criaria uma pessoa completa e depois seria capaz de separar este ser ao meio deixando suas criaturas numa terrível busca pela completude?
Enquanto, algumas pessoas encaram a alma gêmea como um mito, um discurso, uma alegoria, outras acreditam que existe algum ser perfeito para se relacionar, sua cara metade. Vi a série The One (Netflix) e fiquei com a necessidade de trazer algumas ideias para dividir com vocês.
Passeando pela internet, é fácil encontrar listas de como reconhecer se você encontrou sua alma gêmea. Pessoas com essas crenças costumam ser chamadas de românticas e quando se fala em romantismo a confusão tende a imperar. Pois o mesmo termo remete a um movimento artístico; a forma de ser (delicada e cuidadosa) de algumas pessoas; e a forma estereotipada como nós mulheres costumamos ser retratadas, isto é, como pessoas frágeis e objetificadas. É claro que existe uma conexão entre tudo isso e há muito o que se criticar e mudar no mundo.
Todavia, o desejo de amar e de ser amado continua existindo e não deve ser confundido com formas de violências. A ideia de que existe alguém ideal facilita as coisas, já que relacionamentos são difíceis. A busca pelo amor verdadeiro e os símbolos do amor romântico continuam fazendo parte da nossa sociedade e as produções audiovisuais refletem isso.
Comédias românticas costumam fazer sucesso e já vemos mudanças em produções como no filme A incrível Jéssica James (Netflix), no qual a protagonista é negra, pobre e vive relacionamentos bem distantes dos contos de fadas. Recentemente o reality Casamento às Cegas Brasil me trouxe reflexões (e entretenimento, é claro), sobre o amor verdadeiro. Ele depende do encontro com a pessoa certa ou depende de alguma construção?
Eu que me sinto muitas, gostei do reality com as várias camadas que fazem parte de mim. Fiquei encantada com alguns casais (como boa menina romântica que sou); esperei sadicamente pelo quebra pau entre outros; e vibrei como boa feminista por alguns nãos no altar.
Acredito que muitas pessoas também se identificam com um ou outro elemento do romantismo (entendido em sua forma mais ampla). Isto faz com que os pares românticos das novelas tenham torcidas apaixonadas. Lembro de algumas novelas que amei tanto que não me bastava ver, eu precisava conversar com alguém em casa ou telefonava para uma amiga para continuar sorvendo aqueles sentimentos.
Você acha que esqueci de falar sobre a série The One? Não, eu não me esqueci. A série parte da hipótese de que existiria um par genético ideal e ao encontrar esta pessoa a atração é certa. As pessoas têm a sensação de que já se conheciam e se apaixonam.
Gente, eu adoro esses filmes e séries sobre aplicativos de relacionamentos, mas levar isso para o nível da genética e dizer que isso é ciência é uma ideia fantástica! Fiquei vendo de forma viciada, assim como fazia com as novelas.
Mas é claro que a ciência não resolve tudo, não conserta o caráter de ninguém, nem entorta quem tem seus valores bem solidificados. Será? Bom a série brinca muito com isso. Infelizmente ainda está na primeira temporada e o arco dramático não foi todo fechado. Contudo, já ficou claro que não importa o quanto a ciência avance, somos dominados pelas fraquezas humanas como ganância, insegurança e por aí vai.
Na série The One vemos o desejo de amar e de ser amado respondendo por muitos erros, acertos e divisões. Eu estou dividida, acho a ideia da alma gêmea uma coisa bem narcísica, mas ao mesmo tempo não resisto a uma boa história romântica.
Esperemos para ver o que os deuses, digo, os donos da série farão com os casais apaixonados. Eles serão capazes de separá-los?
Rosa Scarlett
