Ética, entre índices e medidores

Valdemar Figueredo
Instituto Mosaico
Published in
3 min readAug 11, 2017

Individualizar virtudes e socializar malefícios?

Le Creative. Behance

Recentemente vi uma notícia que afeta diretamente a parte mais sensível do ser humano: o bolso… cada pessoa no Brasil trabalha cerca de 153 dias por ano para pagar impostos. Não é à toa que uma associação comercial em São Paulo decidiu criar o impostômetro, um medidor para aferir em tempo real a carga tributária paga no país.

Como seria se criássemos um método para medir os valores que estão escassos em nossa sociedade? Teríamos o honestômetro para a honestidade ou o integrômetro para a integridade? A psicologia ainda é a ciência responsável por “transformar” em números os comportamentos e valores subjetivos como a inteligência e a afetividade, por exemplo.

Não existe essa escala ainda, mas como seria se instalássemos um aplicativo no celular que nos avaliasse no final do dia? Será que nossas ações ou omissões passariam por esse crivo?

Nossas cidades têm vivido dias muito difíceis, nos quais o caos está instalado em vários setores da sociedade. Mas seria este cenário uma autorização para abrirmos mão da ética, do caráter e de tudo aquilo que preze o bem comum? Não, o caminho é por outra direção, é o inverso.

Curiosamente, sempre que falamos desses assuntos com alguém, as pessoas (por que não dizer nós) costumam se isentar das responsabilidades. Ouvimos sempre que a sociedade é corrupta ou desonesta, mas me esqueço que eu também sou a sociedade. A responsabilidade também está comigo.

Numa época de tantos cientistas e especialistas nascidos nas redes sociais, nos acostumamos a ler frases e conclusões de que a resposta para uma sociedade melhor seria trocar todos os governantes. Será que toda a solução seria uma simples troca? A questão da integridade talvez não seja apenas mudarmos pessoas, papeis, cenários e discursos. A mudança começa também em nós mesmos, com uma conscientização pessoal.

Tem se tornado comum acumularmos ou individualizarmos nossas virtudes e socializar defeitos e fracassos. Eu sou desonesto quando avanço o sinal vermelho do trânsito ou dirijo ao telefone ou mesmo alcoolizado, eu falto com a integridade quando sonego o imposto de renda etc. A lista é grande, mas nessas ocasiões eu prestei um desserviço à sociedade. Naturalizamos e amenizamos os pequenos atos diários de desonestidade em face dos grandes delitos que são veiculados pela mídia. Essas ações, porém, são iguais, se diferenciam apenas no alcance e na proporção dos seus efeitos.

Confesso que ficamos sempre com um vazio, uma sensação de que estamos fazendo o bem em escala aritmética, enquanto que o mal se prolifera em escala geométrica e incontrolável. Há uma frase muito atual de um pacifista do século passado. Ele disse que não se preocupava com o grito dos maus, mas com o silêncio dos bons. Não podemos nos cansar de fazer o bem, não podemos deixar que os nossos índices de integridade caiam.

Se levarmos a sério o que nos ensinam os psicólogos comportamentais, levaremos a sério que o aprendizado se dá na repetição constante e que os comportamentos reforçados são mais facilmente aprendidos. Precisamos repetir o que é certo, precisamos de bons exemplos do que é honesto, precisamos de referenciais que sejam verdadeiros e justos. Nossas gerações de hoje e de amanhã precisam saber para qual lado olhar. Precisamos ser uma geração melhor do que a atual e a anterior, precisamos entregar filhos melhores para uma sociedade melhor.

Que o ser humano tem um poder de se reinventar incrível é incontestável. Apenas mais uma pergunta: quanto está marcando o seu índice no “esperançômetro”?

Gustavo Mathias Valentim. Professor e pastor. Graduado em teologia e graduando em psicologia

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