31 de agosto de 2016, Temer toma posse

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readAug 31, 2017

Um ano de temer (verbo). Com a deposição da presidenta, Temer logo mostrava a que veio

Foto: Marcelo Casal Jr, Agência Brasil

Michel Miguel Elias Temer Lulia foi nomeado presidente interino em 12/5/2016, e, prontamente, começou a agir como se já fosse o efetivo, encaminhando propostas diferentes — em geral antagônicas — daquelas do programa da chapa com a qual se elegeu, como vice, em 2014. Sua experiência de articulador, derivada do posto de direção do PMDB, maior partido do país, deu-lhe a certeza de que seria entronizado definitivamente. Conhecia as imensas possibilidades de cooptação de um Congresso comprometido com os interesses dedicados ao combate aos aspectos sociais dos governos anteriores. Os mesmos grupos que lutaram contra o desenvolvimentismo e o trabalhismo. Tal cooptação havia sido mais facilitada, quando a presidente Dilma Rousseff o indicou como articulador político do governo, escolha equivocada, que lhe acabou saindo muito cara.

Durante o período de transição do antigo ocupante do Palácio do Jaburu para a efetividade, que durou até a deposição da presidenta, em 31 de agosto de 2016, Temer logo mostrava a que veio. Para implantar o projeto elaborado pelo ex-governador fluminense, Wellington Moreira Franco (o “Ponte para o Futuro”), ao invés de buscar apoios mediante a indicação de uma equipe ministerial de bom nível político, intelectual e moral, cercou-se de uma equipe onde pululavam criaturas conhecidas (não por suas virtudes) em Brasília, investigadas e processadas pelos mais diversos crimes. Via-se desde cedo que o interesse público passaria longe.

Dedicado a retomar a agenda liberalizante e anti nacional dos anos 1990, que não atingiu seus intentos de promover reformas sérias, como as das leis trabalhistas e da Previdência, o governo montado a partir do golpe parlamentar-midiático-jurídico (“artimanhas”, como se referiu o ex-presidente Fernando Henrique, o mesmo que, agora, provocou crise em seu partido, ao incluir no programa televisivo a expressão “presidencialismo de cooptação”, no lugar da consagrada “presidencialismo de coalizão”, do cientista político Sérgio Abranches) Temer rapidamente perdeu apoios até mesmo dos defensores do impeachment.

Muitos deles criticavam justamente as coalizões e os acertos diversos ligados a elas, feitos pela gestão de Dilma. Nunca houve, por parte de Temer, realmente nenhuma preocupação com a reputação do “novo” governo. Importantes demandas da sociedade e também conquistas sociais de décadas foram ignoradas, quando não metodicamente atacadas, através de ministros e lideranças partidárias ligadas de modo escandaloso a associações empresariais. Estas mostraram, pelo menos para quem ainda não tinha percebido isso, que nas democracias representativas contemporâneas, o poder das corporações financiadoras de campanha se sobrepõe ao do mero eleitor, que tem apenas a obrigação de se dirigir a uma urna eletrônica e digitar alguns números.

Desse modo, chega-se a um ano do mandato de Temer apenas com a certeza dos péssimos expedientes com que se sustentou até aqui.

Fernando Roberto de Freitas Almeida, carioca, economista e historiador, professor adjunto do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF)

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