500 anos de reforma protestante e Estado laico

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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2 min readOct 19, 2017
Foto: Divulgação, Lutero-Playmobil

Fui catequizada e educada por uma religião americana, de missionários americanos. Apesar de alguns males causados pela castração puritana, posso dizer que foi neste ambiente que aprendi sobre a inexistência de verdades absolutas. A releitura de Lutero naqueles espaços dizia que não há autoridade inquestionável, até por que quem pode realmente atestar que está dizendo por Deus? Isso é ato de fé e não de verdade.

Lá, e depois em seguida pelo Colégio Pedro II, aprendi a questionar. Questionar e estudar sempre. Nada estava completamente dado, aprendi. Lendo Lutero na minha adolescência “o império babilônico…” algo assim, comecei a detestar toda pretensão institucionalizadora que rejeitasse a espontaneidade, além de ver nas igrejas impérios que deveriam ser abalados.

Em 2015, ter sido expulsa em Roma da capela de São Pedro por estar dividindo uma manta com minha mãe, apenas reascendeu que não daria para ser cristã, pelo menos, com o teor eurocêntrico que enclausura deus num Jesus de olhos azuis. A religião é um ato de fé. Um ato de fé questionável sim, embora haja liames individuais e místicos impossíveis de serem universalizados e, por isso, as argumentações contrárias são sempre apaixonadas.

Quanto a este modelo de Estado que temos, ele não se guia a partir de fé, mas de algumas certezas que devem ser universalizadas. Por mais, limitador das subjetividades que seja, essa seria a garantia de uma tentativa de projetar a igualdade para todos. E, assim, tal Estado enquanto instituição não poderia ser defensor de nenhuma fé, que é paixão subjetiva. É o Estado laico.

De alguma forma, tal construção de Estado também está vinculada ao primeiro processo de reforma por conta do desvinculo entre os Estados europeus e a igreja católica. Lógico que primeiro a religião no século XVI fora a imposição da religião do príncipe. Mas a reforma, na Europa, foi um primeiro passo a pensar que a fé seria um sacerdócio individual e, logo, não poderia ser imposta.

Grazielle Pereira, advogada e mestranda em Teoria e Filosofia do Direito, UERJ

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