A ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO NÃO ACABOU

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readMar 21, 2023

Por Fernando Roberto de Freitas Almeida

Foto: Marcello Casal / JrAgência Brasil

Em 6 de janeiro, ocorreu a primeira reunião ministerial do governo eleito, podendo-se ver a complexidade da nova administração, que precisará reconstruir o país, após quatro anos de destruição deliberada de mecanismos da administração pública. Muito da tradição do partido vitorioso em 2022, ao ocupar a esfera federal, era admirado mundialmente, em especial nas áreas de Saúde e da preservação ambiental, além dos sucessos no combate à fome e às desigualdades. O presidente derrotado, segundo informa a imprensa, foi aconselhado por um juiz-ministro amigo a se retirar do país, não apenas para não ter de passar a faixa presidencial, como para ter mais tempo a planejar seu comportamento diante dos muitos processos a que, inevitavelmente, terá de responder. Sua ausência na posse brindou-nos com uma cerimônia única, na qual representantes, não de minorias,como foi tratado pela imprensa, mas da maioria do povo brasileiro. dividiram a tarefa da passagem da faixa. Assim, não foi uma passagem, foi uma entrega, em confiança, bastando lembrar como se deu a mesma cerimônia, em janeiro de 2019, com presença de Michel Temer, para uma figura como Bolsonaro.

Balanço dos títulos de livros de não-ficção publicados no Brasil, em 2022 apontou que a maior parte deles, de jornalismo investigativo, referiu-se ao movimento que levou o ex-militar ao poder. Alguns são relatos de um universo paralelo, de horror. Um balanço das redes sociais também mostrou acentuado decréscimo das citações a Bolsonaro, com rápida evolução positiva das referentes a Lula.

Imediatamente, mundo afora, chefes de Estado e de governo, além da grande imprensa começaram a saudar que “o Brasil voltou”.

Contudo, prontamente a extrema direita mostrou ter sido apenas derrotada em processo eleitoral — derrota não aceita, aliás — mas continuar mantendo capacidade de mobilização e visando a registrar que continuará atuando, em seus termos agressivos e retrógrados. O dia 8 de janeiro ficará para sempre marcado como um episódio grave da história do país. Os ataques bizarros, de uma massa raivosa, às sedes dos poderes da República, em Brasília, causaram espanto e indignação em todo o planeta e demandarão imenso tempo à averiguação de responsabilidades e sua punição, extremamente necessária. Tratou-se de uma associação de movimentos fascistas diversos, mantidos por empresários incapazes de aceitar a volta de um governo com preocupações voltadas ao mundo do trabalho, com cobertura de militares de formação autoritária,incapazes de sair de um pensamento binário, típico da Guerra Fria, resultado de nunca se ter reformado os currículos das escolas das Forças. O apoio de políticos eleitos, com discursos de ódio não poderia faltar, associado a defensores do crime organizado. Organizaram-se por meses, com total leniência das autoridades que viriam a atacar e cobertura militar, alegadamente dedicada a “defender a liberdade de expressão de maneira pacífica”.

Os próximos anos nos trarão imensos desafios.

Fernando Roberto de Freitas Almeida

Carioca, economista e historiador, professor adjunto do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordenador do Curso de Relações Internacionais

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