A ELEIÇÃO MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA BRASILEIRA

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readOct 24, 2022

Por Fernando Roberto de Freitas Almeida

Foto: Reprodução

O instrumento da reeleição foi criado por Fernando Henrique Cardoso que, após ser chanceler e ministro da Fazenda de Itamar Franco, pretendia prosseguir dirigindo um plano econômico, formulado por seu antecessor. O sucesso no controle da inflação no Brasil, em simultâneo a processos semelhantes mundo afora, mas derivado aqui de um plano criativo, fez com que o povo desse a FHC (o segundo presidente a ser conhecido por uma sigla, o outro foi JK) uma continuação. Em seu segundo mandato, artifícios foram usados para sustentar o plano, sendo a âncora cambial (que arrasou as indústrias) e as privatizações feitas às pressas geradores de novos problemas graves.

Hoje, poucos lembram como foi conseguida a vitória da emenda da reeleição, com “nebulosas transações”. De lá para cá, todos os presidentes concorreram à reeleição e todos passaram ao 2º turno em primeiro lugar, ou foram eleitos no primeiro. Bolsonaro é o primeiro que, não apenas passou em segundo lugar como, por pouco, não foi derrotado por seu adversário. Contudo, dado o desastre que é seu governo, em todas as áreas, social, ambiental, sanitária, científica, internacional, o mundo pergunta como conseguiu a proeza de continuar concorrendo.

Uma listagem de múltiplos crimes de responsabilidade por ele cometidos tomaria todo o espaço deste texto, mas se pode recorrer a filmes facilmente encontráveis, em que debocha de pessoas morrendo sufocadas, mede população negra em arrobas, ofende mulheres, em especial parlamentares e jornalistas e, finalmente, registra inacreditáveis observações sobre meninas, de 13 e 14 anos.

Evidentemente, brasileiros e correspondentes estrangeiros que vivam aqui há mais tempo conhecem o arraigado conservadorismo estrutural do país, seu racismo, sua misoginia, sua incapacidade de aceitar direitos iguais para pessoas e famílias diferentes do “padrão”. Analistas discutem se a situação do presidente é de meia derrota, ou meia vitória. Consideram que, se alguns de seus nomes notáveis (por agressividade e modos “inadequados”, como Fabrício Queiroz) não foram eleitos, outros, como a ex-ministra e pastora Damares (capaz de proferir barbaridades de cunho sexual, num culto, com crianças presentes), Marcos Pontes, o ex-astronauta que não mobilizou recursos para a ciência diante de uma pandemia, os generais Pazuello, inacreditável ministro da Saúde (também inacreditavelmente não punido pelo Código Disciplinar do Exército, ao participar de evento político) e Hamilton Mourão (o vice que, anteriormente, redigia editoriais peçonhentos no Clube Militar (e agora já começa propondo que o Senado impeça o TSE de cassar notícias falsas na Internet) o foram.

Deve-se registrar o uso abusivo da máquina pública, o orçamento secreto, abundantes sigilos de cem anos, “bondades sociais” diversas e baixa forçada do preço dos combustíveis. Tudo isto disfarçado por uma realidade alternativa baseada em ódio. Que nada disso se esqueça, é nossa eleição mais importante.

Fernando Roberto de Freitas Almeida

Carioca, economista e historiador, professor adjunto do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordenador do Curso de Relações Internacionais

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