A razão social de uma empresa é ajudar o próximo.

Redação — Mosaico
Instituto Mosaico
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4 min readJan 24, 2018

Por Thiago Barbosa

Particularmente gosto muito de comer, do ambiente da cozinha e de tudo que isso envolve. Costumo brincar com os amigos que podemos saber a importância da cozinha na vida de qualquer goiano observando como ele se comporta quando alguém visita sua casa. No hábito muito comum que é o “tour” quando um visitante chega à sua casa, um goiano fatalmente comentará sobre sua cozinha. Isso se dá normalmente no ambiente do elogio, falando do grande tamanho ou de sua funcionalidade.

Creio que, tradicionalmente, o goiano não dá tanta importância para a sala de estar e os demais cômodos, afinal as visitações sempre se demoram na cozinha mesmo, e ali o tempo passa. Por toda a manhã, café com pão de queijo, biscoitos e pães servidos e repostos. No almoço, a maratona continua, pratos tradicionais comuns da culinária mineira/goiana se amontoam sobre a mesa e assim segue pela tarde e noite. Ou seja, a cozinha é o coração da casa de um goiano tradicional e ali se desenrolam as conversas e a vida de um modo geral. Isso então se torna memória afetiva para cada um daqueles que se associaram a esse imaginário. Comida simples com substâncias e condimentos marcantes acompanham para o resto da vida.

Me mudando para o Tocantins, trouxe comigo essa realidade.

Chegando aqui me apaixonei pelo “Chambari”, um prato que foi admitido como bem imaterial do tocantinense, e que basicamente é um caldo de carne (feito com o músculo da “canela” do boi), condimentado e substancioso, ao que todo goiano que gosta de comer se afeiçoa. E o melhor da cidade, na minha opinião, é o do “tio do Chambari”, que fica em um estacionamento no centro da cidade conhecido como “a Feira da Gambira”. É um lugar conhecido pelo comércio de veículos automotores por pessoas que não tem lojas especificas para isso, além de compra e venda de terrenos e outras coisas mais.

Nesse ambiente que fervilha a popularidade e as gentes da cidade de Palmas é que conheci o “tio do Chambari”, um senhor com mais de 50 anos e que vende este prato típico sustentando as panelas em um carrinho normalmente usado para vender pipocas. Ali, as conversas são as mais diversas possíveis e o ambiente é diversificado; políticos em campanha, profissionais liberais, vendedores das mais variadas possibilidades, entregadores, trabalhadores de lojas, garis, mecânicos, todo tipo de pessoa se ajunta para degustar das delícias do Chambari.

Um dia desses, em que tomava café da manhã na feira, perguntei quando haveria um aumento de preços do prato, já que tudo vinha sofrendo significativos reajustes (isso ainda no inicio do ano de 2017). A resposta me causa atenção e esperança ainda hoje.

Ele disse: “Não tenho previsão de aumentar o preço, tenho um bom lucro vendendo no preço atual. Já basta tanta gente para roubar o povo, seu eu posso ajudar vendendo comida barata, vou fazer. O senhor tem um bom emprego e pode pagar mais pelo prato, mas muita gente que vem aqui come um prato valendo pelo dia todo e não vai comer mais nada. Se eu aumentar os preços, deixo a vida dessa gente mais difícil, por enquanto não aumento. ”

Um empreendedor que realmente cobra abaixo do valor de mercado pela qualidade e quantidade de comida servida, mas que ainda pensa na razão social de seu trabalho. Ele não tem estudo formal de nível superior. Pelo linguajar, sua simplicidade é visível. Modéstia. E ainda assim, um pensamento que vai de encontro com a necessidade do próximo. Não é preciso MBA, pós-graduações, cursos no exterior com palestrantes midiáticos. É preciso apenas olhar para sua capacidade de ajudar, e perceber que a razão social de uma empresa é impactar as pessoas que se aproximam.

Hoje, janeiro de 2018, o preço permanece intacto, o movimento dos clientes é inabalável, e o sorriso no rosto do “tio do Chambari” parece perpétuo.

Vale a pena?

Thiago Barbosa é Biólogo, teólogo e atua como professor no ensino médio em Palmas, Tocantins. Gastronomia e motociclismos são hobbies que ajudam a entender sua personalidade sempre disposta à experimentar o mundo.

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