BOLSONARO PLAGIOU DAMARES, TERRIVELMENTE

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
Published in
3 min readOct 8, 2020

Por Valdemar Figueredo

Damares Alves assumiu numa quarta-feira, no dia 02/01/2019, o cargo de ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. No discurso de posse, afirmou: “O Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã”.

Dessa forma, mostrava suas credenciais numa autodefinição inusitada e ameaçadora. O que seria uma cristã terrível?

Ainda que não soubéssemos exatamente, tínhamos uma pista: Damares fora assessora parlamentar do ex-senador Magno Malta.

Ouso dizer que no primeiro semestre do governo Bolsonaro, Damares foi a ministra com maior visibilidade. Fez barulho. E olha que tínhamos os medalhões, ministro da justiça (Sérgio Moro) e da economia (Paulo Guedes). Havia até quem interpretasse a visibilidade intempestiva da pastora como cortina de fumaça intencional para encobrir os atos desastrosos da equipe de governo nos primeiros meses.

Também numa quarta-feira, no dia 10/07/2019, o Presidente Jair Bolsonaro participou de um culto na Câmara dos Deputados. Entre cantos e orações, vários tipos, diversas versões do terrivelmente cristão disputavam uma posição privilegiada para saírem bem na fotografia ao lado do presidente. Foi nesta solenidade política/religiosa que BOLSONARO PLAGIOU DAMARES. Afirmou que durante a sua gestão terá direito a indicar dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e que “um deles será terrivelmente evangélico”.

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Perceba que o Presidente não só plagiou, mas do que isso, restringiu o termo cristão a designação “evangélico”. A promessa à Frente Parlamentar Evangélica na Câmara era que ela teria uma representação a altura no Supremo Tribunal Federal.

Bolsonaro havia sido mais explícito em culto realizado em maio de 2019 na Assembleia de Deus Ministério Madureira, em Goiânia:

“Com todo respeito ao Supremo Tribunal Federal, eu pergunto: existe algum, entre os 11 ministros do Supremo, evangélico? Cristão assumido? Não me venha a imprensa dizer que eu quero misturar a Justiça com religião. Todos nós temos uma religião ou não temos. E respeitamos, um tem que respeitar o outro. Será que não está na hora de termos um ministro no Supremo Tribunal Federal evangélico?”[1]

Eis por que a gritaria com a indicação de Kassio Nunes para o STF. Frustrada, a base política bolsonarista em questão reclama que não basta ser jurista, cristão, católico ou mesmo desembargador de notório saber, a promessa é que o novo ministro do STF indicado pelo presidente da república seja terrível. Ou seja, não serve qualquer cristão, nem mesmo qualquer evangélico, o combinado é que ele seja terrível.

A ameaça de Damares plagiada por Bolsonaro ainda não foi cumprida, mas é questão de tempo. O terrível já está entre nós, mas ainda não. Como sabemos, o jogo jogado é diferente do jogo comentado e só termina quando o juiz apita o fim.

Valdemar Figueredo é autor do livro A fraquejada de um país terrivelmente evangélico. Rio de Janeiro: Editora Telha, 2020

Editor Instituto Mosaico, professor universitário e pastor deslocado. Leciona nas áreas de ética e política. Na periferia atento à espiritualidade prosaica.

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[1] Bolsonaro diz que vai indicar ministro ‘terrivelmente evangélico’ para o STF. Por Fernanda Calgaro e Guilherme Mazui. G1, 10/07/2019. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/07/10/bolsonaro-diz-que-vai-indicar-ministro-terrivelmente-evangelico-para-o-stf.ghtml. Acesso em: 05/10/2020

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