Brasil 2017: Boi, Bala e Bíblia?

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readAug 9, 2017

O partido de Temer elaborou um projeto, a que chamou de “Ponte para o Futuro”. A concepção de futuro dos conservadores que o redigiram, e estão implantando, não é algo de interesse da maioria

Fotografia: Jeso Carneiro. Carregado em 21/05/17 no Flickr

A imensa maioria da população brasileira tem-se declarado contrária ao atual governo, por ter percebido o caráter regressivo e antipopular do projeto que chegou ao poder no ano passado. Existe uma percepção, que pode até ser difusa, quanto ao fato de as sucessivas reformas anunciadas — e votadas por um Congresso que visivelmente não representa seus eleitores — não terem sido discutidas e analisadas por todos os interessados.

Por exemplo, a reforma trabalhista mexe com regras estabelecidas há décadas, que demandaram treze anos de discussões entre especialistas, para que se fizesse a CLT e, subitamente, aparece num texto acabado.

Do mesmo modo, assim se anunciaram as reformas do Ensino Médio e da Previdência Social. A primeira foi acompanhada do anúncio de uma pesquisa, segundo a qual 62% dos brasileiros a apoiavam, sem que se dissesse que pesquisa foi essa. A segunda, que vai mexer seriamente com as novas gerações, ainda é mais controversa.

Muitos especialistas afirmam que a avaliação de um déficit nas contas previdenciárias é uma visão contábil equivocada. É preciso salientar que os parlamentares costumam se articular em grupos acima de seus partidos, as bancadas. Essas acabaram sendo exemplificadas pela sigla BBB, significado de “boi, bala e Bíblia”.

De fato, vão além disso, pois, em essência, tratam-se de grupos de empresários, em sua maioria com formação em Direito, e que têm mais relações com seus financiadores de campanhas do que com seus eleitores, meras pessoas físicas. Afinal, que projeto é esse?

O PMDB, maior partido do Congresso, por não conseguir lançar candidatura à presidência, aderiu à candidatura de Dilma Rousseff, o que também era de evidente interesse do PT, em sua lógica de “construir governabilidade”. Tal acerto teria todas as chances de dar errado, e deu.

O partido de Temer elaborou um projeto, a que chamou de “Ponte para o Futuro”. A concepção de futuro dos conservadores que o redigiram, e estão implantando, não é algo de interesse da maioria. Esse futuro interessa apenas a estas categorias citadas. Vamos lembrar que, embora nunca tenha deixado de ser um país injusto e desigual, o tempo em que nossa economia cresceu mais foi aquele em que o tipo de ideário que, justamente, produziu a CLT, estava ligado à industrialização e urbanização.

Foi com esse ideário, o Desenvolvimentismo, que o Brasil foi o país com o terceiro maior crescimento econômico do mundo no século XX, atrás apenas do Japão e Coreia do Sul. Em verdade, de 1901 a 1982, foi o que cresceu mais, por ter sido o período em que o Desenvolvimentismo se formou e foi aceito (1930–1989).

Nos anos 1990, tempos de Collor, Itamar e FHC, fez-se uma reversão parecida com a atual, e passamos a ter o 93º maior crescimento. No século XXI, até 2016, retomamos um pouco a visão do período desenvolvimentista e, logo, o país se destacava, entre outras coisas, por ser o primeiro a cumprir as Metas do Milênio, da ONU. Saímos do Mapa da Fome. Estamos voltando agora. O que fazer?

Fernando Roberto de Freitas Almeida, carioca, economista e historiador, professor adjunto do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF)

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