CRIVELLA, FREIXO, MÁRCIA E JORNAL EXTRA

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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4 min readJul 11, 2018

Por Valdemar Figueredo

Foto: Tânia Rego

O vazamento do áudio da reunião do prefeito Marcelo Crivella com pastores e líderes evangélicos no Palácio da Cidade, sede da Prefeitura, no dia 04 de julho, em que teria oferecido facilidades de atendimentos nos processos de IPTU das Igrejas e agilização para cirurgias de cataratas e varizes, realmente reforça o conhecido expediente do “uso da máquina pública” em período eleitoral.

Vergonhoso, criminoso e usual.

Muitas igrejas, pastores e fiéis “agradecem a Deus” porque têm um DESPACHANTE para chamar de seu. O caso Crivella não é uma exceção. Os evangélicos não são os únicos beneficiários dos conchavos do serviço público direcionado para determinado segmento da cidade.

No entanto, o fato de localizarmos o ocorrido como algo usual na cultura política brasileira não diminui em nada a gravidade da coisa. Prefeito não é despachante, muito menos cabo-eleitoral que usa a sede da Prefeitura para influenciar na decisão do voto. O que o Crivella fez foi VERGONHOSO E CRIMINOSO.

A manifestação imediata do Marcelo Freixo sobre o ocorrido foi no sentido de enfatizar o quanto o encontro foi inapropriado, o quanto as promessas de facilidades foram seletivas e o quanto tal reunião de fatores são passíveis de representação no Ministério Público.

Subscrevo e concordo com o conteúdo da fala do Deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ). O mérito da questão não está em discussão aqui neste artigo. O que o Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro manifestou naquele áudio, repito, é VERGONHOSO, CRIMINOSO E USUAL.

Portanto, concordo plenamente com o teor da indignação do Freixo. Mas, fiquei espantado que ele tenha utilizado como fonte o Jornal Extra. Pior, leu as letras garrafais da capa e aquelas linhas explicativas que nem sempre têm a ver com o conteúdo das matérias.

Freixo, não faz isso não. Nós sofremos um golpe de Estado em que este tipo de jornalismo produziu em velocidade industrial matérias criminalizando certos atores políticos. Diuturnamente espetacularização das ações do judiciário. Boa parte do conteúdo que levaram ao impedimento da Presidenta Dilma e depois ao processo que levou o Lula para a prisão foram MATÉRIAS JORNALÍSTICAS. As convicções da Força Tarefa da Lava Jato foram fortemente marcadas por essas fontes.

Freixo, condenar o Prefeito Marcelo Crivella tendo à mão o Jornal Extra do grupo O Globo foi uma péssima escolha. Repito, tudo que você disse sobre a criminosa e inapropriada postura do prefeito estou de acordo. Mas, convenhamos, bateu no Crivella e legitimou a capa de um jornal para lá de suspeita nesta história.

Aqui no Estado do Rio de Janeiro o Crivella é a bola da vez. Sequer precisamos de clipping de notícias para saber que por aqui a campanha para detoná-lo está em curso. Freixo, o Grupo Globo confessou que apoiou a ditadura; na redemocratização escolheu o Brizola como o inimigo a ser vencido; é o grande responsável pelo fenômeno Collor de Mello; fez “propaganda” sistemática pela reforma do Estado levada a cabo por Fernando Henrique Cardoso; demonizou a figura do Luís Inácio Lula da Silva; incensou Eduardo Cunha e Sérgio Moro para levarem adiante o golpe recente do impeachment da Dilma.

Freixo, não dá para achar que a fala do Crivella tem que ser combatida e calar sobre o que representa o jornalismo do Jornal Extra.

Faço este registro porque não foram poucas as vezes em que o PSOL, de quadros tão preciosos e pautas tão necessárias, entrou no imediatismo midiático de articulistas para lá de duvidosos para bater. O papel de inocente útil não cai bem para o Marcelo Freixo muito menos para o PSOL. A espetacularização da política tem a ver com criminalizações seletivas.

Usando o vôlei como metáfora, hoje o Freixo sobe para cortar a bola levantada pelo Extra e o Globo. Provavelmente amanhã, caso Freixo e o PSOL façam bloqueios na REDE, serão eles que receberão as “cortadas” no peito.

Nesse jogo, não deveríamos bater em um e afagar o outro. Até porque, sequer sabemos por que estão às turras. Cultivamos algumas desconfianças, nenhuma delas tem a ver com os interesses da população da cidade do Rio de Janeiro.

Caso não possa ficar de fora Freixo, procura melhores fontes para comunicar a sua e a nossa indignação. Da forma como tem ocorrido recorrentemente, fica parecendo que vocês do PSOL funcionam como DESPACHANTE do Infoglobo. Transformam as denúncias deles em protocolos nas câmaras legislativas e representações no Ministério Público.

Freixo, foge da aparência do mal!

Valdemar Figueredo

Professor, Pastor, Escritor e Diretor/Editor do Instituto Mosaico. Doutor em Ciência Política (IUPERJ) e doutorando em Teologia (PUC-RJ)

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