ESPEREMOS CORTINAS DE FUMAÇA MAIS ESPESSAS

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readAug 12, 2019

Por Fernando Roberto de Freitas Almeida

Foto: visualhunt.com

A quantidade avassaladora de medidas drásticas tomadas pelo governo federal vem sendo considerada, por analistas brasileiros e estrangeiros, estratégia para causar perplexidade e desânimo nas oposições e manutenção do núcleo minoritário da população que realmente apoia a truculência como modo de governar. Todas elas são de cunho extremamente conservador e os setores que ainda as apoiam regozijam-se a cada retrocesso. A tentativa de diálogo nacional tornou-se dificílima, pois qualquer conversa exige uma metaconversa, tendo-se que explicar aos interlocutores quais são os conceitos envolvidos, ou seja, efetivamente, do que se está falando. Considerando-se as evidentes limitações culturais e cognitivas do presidente, vê-se com facilidade que ele se adequa ao papel de animador de massas refratárias a quaisquer avanços civilizacionais. O fato de a expressão “Direitos Humanos” ser vista por milhões de brasileiros como uma posição radical de esquerda mostra a que ponto chegamos nesta caminhada para o estado de natureza. Isto foi o que ele sempre propôs e o que o levou a ter sido uma figura sem expressão e, frequentemente, objeto de pouco caso, no Congresso.

Levantamento divulgado pelo jornal Folha de São Paulo mostrou que, ao longo do primeiro semestre, de 87 indicadores sociais. Econômicos e ambientais, segundo estatísticas oficiais e derivadas de estudos diversos, 44 se deterioraram, quinze ficaram estáveis e 28 melhoraram. Como seria fácil prever, os piores desempenhos ocorreram nas áreas de educação, saúde e ambiente. Na saúde, houve 4.000 médicos a menos no SUS e de doze indicadores do MEC, só um melhorou. Na questão ambiental, o desmatamento na Amazônia cresceu 25% em abril, maio e junho. De 47 indicadores econômicos, 27 pioraram. Dos 20 citados como os de desempenho positivo, entre eles a Bolsa e o emprego, cabem observações importantes: a Bolsa expressa o ponto de vista da minoria rentista, para a qual pouco importa a degradação do ambiente social e, quanto ao emprego, o desalento que leva as pessoas a pararem de procurar emprego reduz o percentual do desemprego, além do fato, que as estatísticas demonstram, que os empregos oferecidos não são de boa qualidade.

A produção industrial recuou 1,6% em relação ao mesmo período de 2018 e o PIB do primeiro trimestre, o dado mais recente, foi 0,2% menor do que o do trimestre anterior. Com o endividamento das famílias subindo, a tensão em que os brasileiros vivem atualmente não diminuirá, embora o número de homicídios dolosos tenha caído no país, relativamente no mesmo período. Veem-se análises de que a redução das taxas de juros não tem surtido efeito e cabe lembrar que o impeditivo criado por Temer, de aumento dos gastos públicos, tira do Estado a capacidade de estimular a economia. Mesmo o saldo da Balança Comercial positivo não anima, sendo menor do que o obtido um ano antes, com recuo de 3,5% nas exportações.

Podemos esperar apenas uma cortina de fumaça mais espessa.

Fernando Roberto de Freitas Almeida

Carioca, economista e historiador, professor adjunto do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordenador do curso de Relações Internacionais.

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