HOMENAGEM DE UM PROTESTANTE A SÃO FRANCISCO

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readOct 5, 2019

Por Mozart Noronha

Título: “São Francisco de Assis” Autoria: Hector Molina Ano: 2013. Atelier Molina, em João Pessoa, Paraíba, Brasil. http://ateliermolina.blogspot.com

Hoje, dia 4 de outubro, é dia de São Francisco. Aprendi que não é ridículo alguém sonhar ou ser considerado ingênuo como São Francisco de Assis. Ele amava Deus e a natureza. Considerava os animais seus irmãos. Dirigia-se ao astro rei como Irmão Sol e à namorada de todos os poetas como Irmã Lua.

Como pastor protestante tenho em minha casa um lugar de destaque onde fica uma imagem daquele homem de Deus. São Francisco é um santo comum de católicos e de protestantes herdeiros da Reforma do Século XVI. Deus trouxe Francisco ao mundo no Século XIII. Bem antes da Reforma Protestante.
Lutero foi um monge da Ordem de Santo Agostinho, um teólogo do Século IV e certamente tinha um grande respeito e carinho por São Francisco.

Vejam quantos santos temos em comum com os nossos irmãos da Igreja Católica. Tenho dito em encontros ecumênicos que as barreiras que nos separam não alcançam o céu. Tenho certeza que se Lutero vivesse hoje estaria lutando ao lado do Papa Francisco para continuar reformando a Igreja. Ecclesia reformata et semper reformanda.

São Francisco entendia que, à luz das Sagradas Escrituras, o plano salvador de Deus não é só para os seres humanos. Não é um projeto antropocêntrico. No Livro de Jonas Deus demonstra o seu amor não só pelos seres humanos, mas também pelos animais (Jonas 4,11) e o Apóstolo Paulo fala que toda criação aguarda a revelação dos filhos de Deus (Romanos 8,19–21).

Eu choro pensando no que está acontecendo na Amazônia. Fauna e flora sendo levadas ao altar do sacrifício para satisfazer a ganância criminosa dos adoradores do deus dinheiro.

Que cheiro de terra na terra batida!
Que gosto de sangue na boca sedenta!
Que cheiro de gente, de gente batida!
Que gosto de sal na água falida.
Que cheiro-miséria suspenso no ar!
Menino, me escuta, eu quero cantar…
Não espere brinquedo, não tenho pra dar.
Não espere canção, não posso cantar.
Não espere da terra. A terra não deu.
Espere um poema. O poeta sou eu.
(Décio Bittencourt)

Às margens dos rios da Amazônia nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos das nossas terras, casas e das nossas árvores frutíferas queimadas por criminosos perversos. Os nossos pássaros pararam de cantar e caiam sem vida sobre as chamas. Ouvíamos os gritos dos animais na escuridão das noites mais longas da nossa vida pois para nós os dias e as noites são a mesma coisa. Nos nossos casebres pendurávamos os nossos instrumentos musicais pois aqueles que nos governam e os nossos opressores pediam canções e queriam que nós ficássemos alegres. Diziam: Entoai-nos as canções do norte! Como cantar as canções das nossas terras se somos tratados como estranhos e como coisas que andam? Se eu de ti me esquecer, ó Amazônia, fique eu mudo para sempre! Sejam queimadas as minhas mãos se eu não preferir a Amazônia à minha melhor alegria. Lembra-te, Senhor da Amazônia! Contra os nossos opressores lembra-te, Senhor, do dia em que diziam: É o dia do fogo! É o dia do fogo! Arrasai, arrasai-a! Vós que pensais ter o poder da vida a da morte. Vós que pensais ser donos de tudo, felizes são aquelas pessoas que ainda não têm o coração empedernido e que ainda irão cobrar de vós, levando-vos aos tribunais pelo mal que nos fizestes e que fiqueis envergonhados diante dos vossos filhos (uma chave hermenêutica para a leitura do Salmo 137).

São Francisco de Assis, somos gratos ao Deus Eterno pela tua vida e intercedemos pelo nosso irmão, o Papa Francisco, para que tenha uma longa vida e possa seguir os teus caminhos em defesa de todas as pessoas deserdadas da terra, de todos os seres vivos e da restauração da nossa mãe natureza.

Mozart Noronha

Pastor Luterano, botafoguense, professor universitário, formado em direito, filosofia e teologia.

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