HOMERO REDIME JUDAS
Por Eduardo Campos
Para o meu João, pelos seus 12 anos.
“Que foi, filho?”,
perguntou Judas Iscariotes.
“Nada. Só quero ficar com você”.
respondeu nadamente Homero,
deitado de bruços,
como quem assistia alegremente
a uma traição da qual participava,
sem qualquer ódio,
na condição de traído.
Por nada, de nada, de bruços,
de mão no queixo,
que de nada queixava,
ele era todo
o silêncio de um olhar
inocente e sedutor
me convidando
para a brinca
de nada,
de pai e filho.
Há algo maior que estar de bruços
sobre o nada?
Há algo menor que
não poder ver esse mesmo nada?
Não há culpa onde –
nada se pode fazer.
Não há tédio onde –
Tudo é possível.
Eduardo Campos. Doutor em Filosofia (UFRJ), Mestre em Filosofia (UFRJ), Especialista em Filosofia Moderna e Contemporânea (UERJ), Licenciado em Filosofia (UFRJ). Atua como pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicopatologia e Subjetividade (IPUB/UFRJ). Professor do Instituto de Psicologia Fenomenologico-Existencial (IFEN).