Liderança

Entre o empreendedorismo individual e a força do coletivo

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
3 min readOct 14, 2017

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Foto: Eduardo Amorim. Bando de garças, Flickr

Genericamente liderança pode ser conceituada como a influência exercida por algumas pessoas sobre as outras para realizar os objetivos de um grupo. Assim entendida, a liderança é uma forma de poder.

O tema se faz presente desde o início do mundo. Se lermos com atenção os primeiros cinco livros da Bíblia, o chamado Pentateuco, teremos ali o problema da liderança. É um tema antigo. O que me fascina na Bíblia é que Javé, com todo o seu poder, não tratou as pessoas sem considerar suas possibilidades de escolha. Este é um ponto importante para o início da nossa conversa sobre liderança: o ser humano se distingue pela capacidade de escolha, tomar decisões e ser responsável por elas.

Mesmo com o poder que detém, Javé tratou o ser humano como alguém à sua imagem e semelhança, que se reflete no livre-arbítrio. E o que é o livre-arbítrio? As pessoas buscam a sua autonomia, possuem posicionamentos frente aos problemas e pensam por si mesmas. Isso é o mais bonito da forma como é apresentado o mito da criação. Esse poder marca sua existência e trajetória de vida. Ele decide seu rumo e não há força maior do que esta: ele é senhor das suas próprias decisões, por mais que estas o afastem ou aproximem de Deus.

Nós somos seres sociais e, como seres gregários, somos diferentes uns dos outros. Mas mesmo nas diferenças temos a possibilidade de trabalharmos objetivos comuns. Tentamos desde o começo influenciar os outros diante dos nossos objetivos, que podem ou não se converter em ideais desejados e internalizados por um grupo.

Tudo o que requer competência coletiva requer também sinergia.

Sem a competência coletiva não conseguimos realizar o que está previsto. A liderança é uma forma de poder e existe a partir da existência de um grupo. Não há liderança sem grupo. As pessoas exercem poder umas sobre as outras. É preciso entender que a liderança tem uma origem. Ela não cai do céu.

A tradição das ciências sociais tem nos dado três respostas: a pessoa, a posição da pessoa no grupo e a interação. A Psicologia se dividiu entre essas possibilidades. Qualquer influência constitui-se liderança? Como e por que as pessoas influenciam umas às outras? Diferentes respostas foram construídas ao longo da história humana.

O primeiro conceito que se tem é da liderança como uma força divina. Os líderes eram assim reconhecidos por serem “compadres de Deus”. Cabia muito pouco questionamento a autoridade do líder porque se tratava de algo divino. E sendo “compadre ungido de Deus”, não se questionava. Era algo dado.

A ópera Aída, de Verdi, é um exemplo — com o caso de Radamés, que foi escolhido pelos sacerdotes para liderar o exército. O poder religioso justificava a posição. No entanto, com o crescimento da racionalidade eles foram tirando a explicação divina e foram acreditando que a liderança era algo humano. A primeira teoria intuitiva que eles tiveram foi que a liderança era algo hereditário. Por características que eles desconheciam, a liderança era transmitida pelos pais. Essa visão sustentou as monarquias hereditárias.

Ter um filho era muito importante porque nele residia o futuro e propagação da liderança de uma família. O pensamento caminhou assim até o século XVIII. Com a industrialização o mundo sofreu mudanças bastante profundas no sistema social. O que aconteceu?

Os movimentos republicanos, tendo como principal movimento a Revolução Francesa e revoluções liberais, constataram que algumas pessoas não eram filhos “de ninguém”, não tinham “sangue azul ou real” e se tornavam líderes. Não foram “ungidos” pelo poder religioso e muito menos nasceram com sangue real. Houve uma mudança de percepção na visão da liderança como característica pessoal, não hereditária, e que poderia ser desenvolvida. Na verdade foi uma retomada do pensamento filosófico grego já discutido por Sócrates e Platão.

Carlos Netto. Diretor de Estratégia e Organização do Banco do Brasil. Graduado em História Social (UFRJ), Mestre em Comunicação Social(UFRJ) e Mestre em História das Relações Internacionais (UERJ)e Doutor em Psicologia Social (USP).

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