Não é possível ignorar de que se trata

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readOct 18, 2018

Fernando Almeida

Arte digital postado por Normal Birth Brazil

Qual a semelhança entre The Economist, Financial Times, The Guardian, El País, The New York Times, The Washington Post, Le Monde, Clarín, La Nacion, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito? Os primeiros são veículos da imprensa internacional. Os seguintes representam cristãos brasileiros. Une-os uma preocupação: a candidatura do Partido Social Liberal, pelos riscos que traz à democracia.

Este partido tem vinte anos de registro e foi reformulado em 2018, abandonando o Social Liberalismo (pensaram em se chamar “Mobiliza” ou “Republicanos”). A mudança real foi passar da direita para a extrema direita, como visto por diversos cientistas políticos. Esta classificação lhe cabe bem. Seu imenso conservadorismo nos costumes o levou a abrigar, após a chegada do ex-capitão, uma ala monarquista, liderada pelo príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança, defensor da monarquia.

É o primeiro partido desde 1889 com expressiva facção monarquista e queriam lançar o nobre como candidato à vice-presidência. Escolheram um general da reserva. Haver um general subordinado a um capitão não lhes pareceu inconveniente, mas as posteriores declarações e desautorizações mostraram o equívoco.

A Wikipédia diz que o presidente é Gustavo Bebbiano mas para o jornal El País, Bolsonaro o é de-facto. Controla a maioria dos diretórios. Avalia-se agora o processo político iniciado com a captura das ruas pela direita, em 2013. As eleições de 2018 mostraram que os partidos que embarcaram na solução simples e não violenta do golpe contra Dilma Rousseff foram massacrados nas urnas. Os que tramaram o golpe foram o PSDB, o PMDB e o DEM (partido da ditadura, a Arena, depois PFL). Até 2006, tinham perto de 240 deputados federais, quase metade da Câmara (513 deputados). Agora, os três têm apenas 92 deputados (141, em 2014. A esquerda praticamente se manteve, em 2018, com 136 deputados.

O “Centrão”, direita evidente, também se manteve (186 parlamentares. O PT continuou sendo o mais votado (em todos os cargos executivos e legislativos), e o PSL, passou de um para 52 deputados. Os descontentes com a política estão agora investindo na possibilidade de acabar com ela, enquanto quem acredita na batalha pelos avanços democráticos persiste num arco associado ao PT.

Há ampla literatura mostrando como os meios de comunicação, em especial a Rede Globo, deram palavras de ordem e as cores da bandeira para uma militância difusa de direita, que nem queria saber de partidos políticos. Neste ponto, começam a aparecer os problemas: ideias de extrema direita sempre há, em especial num país desigual e violento como o nosso e, algumas vezes, são capazes de se organizarem como movimentos. A História registra vários casos, sendo os mais estudados o italiano, a partir dos anos 1920, logo seguido pelo caso alemão: a mesma busca por soluções simples para problemas complexos, preservando o sistema de classes. Isso tem nome. Não se pode escamotear de que se trata.

Fernando Roberto de Freitas Almeida, carioca, economista e historiador, professor adjunto do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF)

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