Nem a Judas, nem a Pedro e nem a João

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readOct 1, 2018

Por Anderson José L. Baptista

A Última Ceia — Leonardo Da Vinci

Um dia desses me deparei com a seguinte afirmação nas redes sociais: “Prefiro Pedro que era impulsivo, falava algumas besteiras e andava armado com uma espada, do que judas com seu discurso mentiroso de ajudar os pobres, mas que no final das contas, era ladrão!”. Confesso que desconheço a autoria original do texto para dar os devidos créditos. Entretanto, penso que ele resume bem o tempo atual, demarcado pela busca da construção de identidades fundamentadas na negação do outro.

Como defensor da democracia deixo registrado o direito de cada um expor as próprias preferências. Entretanto, penso que a realidade é complexa demais para se resumir a essencialismos. Será que só existem de fato as opções do Judas traidor, ajudador dos pobres e a do Pedro violento, impulsivo, defensor de Jesus? Por que não a opção do João impulsivo, convertido em apóstolo do amor? Ou por que não a do Pedro maduro, que declarou em uma de suas cartas que não devemos pagar o mal com mal (1Pe 3.9)?

Fazendo valer meu direito de preferência, escolho o Evangelho. Aquele que aponta Jesus de Nazaré como modelo. O mesmo que transformou a Pedro e a João. Aquele que colocou a vida humana e a dignidade do ser acima de qualquer regra e questiúncula religiosa, rompeu com paradigmas legalistas e discriminatórios de seu tempo, sem deixar de apontar que a restauração completa do ser se encontra no Cristo. O Nazareno que reparou a violência de Pedro colando de volta a orelha do soldado. O Jesus que impediu a mulher adultera de ser apedrejada, que foi discriminado por fazer refeições com prostitutas, por se hospedar na casa de um cobrador de impostos. O Jesus que salvou o ladrão da cruz.

Nem a Judas, nem a Pedro e nem a João, com todo respeito. Ao Evangelho, a Jesus de Nazaré! O mesmo que Pedro e João optaram por seguir, aquele que muda o caráter, transforma realidades e se indigna com quaisquer formas de injustiça. Esse não cabe em rótulos, ódios e caixas que insistem em lhe impor.

Anderson José L. Baptista

Professor no município do Rio de Janeiro, graduado em teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana e em História pela Universidade Estácio de Sá. Mestre e doutor em educação pela Universidade Federal Fluminense. Suas pesquisas transitam nas áreas de Educação de Jovens e Adultos, Políticas Públicas e Educação Popular.

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