NOSSO MAIOR PROBLEMA É O LOBBY POR 5G CHINÊS?

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readFeb 16, 2022

Por Fernando Roberto de Freitas Almeida

Imagem: Capa de vídeo no canal Conserva Talk

Estamos há algumas semanas em 2022, ano da comemoração (vai haver?) dos duzentos anos da independência de Portugal. Notamos alguma diferença? A discutir que independência foi essa e o que veio depois. A passagem, o Réveillon, foi comemorada, de qualquer maneira, com restrições variadas, pelo menos entre as pessoas sérias. Esse substantivo francês não representa apenas o ato de acordar num novo ano. Também se associa à ideia de reanimar que, por sua vez, traz a vontade de ter uma alma nova. No entanto, que “alma nova”, diante do desastre em curso no Brasil?

Sobreviver é o projeto de todas e todos. 2021 foi péssimo, mas 2020 também foi (e 2019, sem pandemia). Aliás, qual foi o último ano em que vivemos com alguma tranquilidade? Alguma, pois num dos países mais violentos e desiguais do mundo, tranquilidade sempre foi luxo desfrutado por uma minoria. Vimos no ano passado o país perder mais de 600 mil vidas, destruir famílias, empregos, Direitos Humanos, direitos de minorias, ambiente… Até as relações com o exterior, em que sempre gozamos do prestígio de bons articuladores, pacíficos e cooperativos, foram metodicamente destruídas, a golpes de insensatez e grosserias.

Quem estiver atento ao ambiente político atual está vendo um ex-ministro das Relações Exteriores ser processado pelo atual ministro das Comunicações, pelo fato de o ter acusado de ter “entregue o 5G à China” e de ter seu partido financiado pelo Partido Comunista Chinês. São situações ridículas, que não param, desde 2018. Ridículas, mas perigosas para o futuro do país, tendo em vista as ambições eleitorais de muitos dos apoiadores do atual governo, há pouco unidos em algo que se denominou “bolsonarismo”, para não serem usados conceitos políticos bem conhecidos em todo o mundo, perdedores da II Guerra Mundial.

Abraham Weintraub, nosso impressionante ex-ministro da Educação, pretende concorrer ao governo paulista, a ministra Damares, capaz de visitar uma única criança que se pensou ter tido efeitos colaterais de vacinação, mas assistiu — e assiste — impassível a todos os desastres e violações de Direitos Humanos, pretende alcançar o Senado; o ex-ministro da Logística, quer dizer, da Saúde, general Pazuello, também pensa em um governo estadual. São muitos os casos. Outros tantos, que contribuíram para o retrocesso generalizado, ainda querem a reeleição.

A grande imprensa, que configura um quarto poder, como bem apontou o falecido jornalista Paulo Henrique Amorim, tardiamente percebeu algo, somente algo, dos equívocos cometidos em anos recentes, ignorando e atacando um real projeto social-democrata, para apoiar qualquer coisa que fosse contra ele. Acabaram produzindo um inimigo real, totalmente incapaz de aceitar, até porque não entende, o convívio em uma sociedade civilizada. Está sendo implantado no Brasil um retorno a um estado de natureza, de todos contra todos, em que se enfatizam os piores aspectos da sociedade brasileira, racista, misógina e falsamente moralista. Quando virá a vida nova?

Fernando Roberto de Freitas Almeida

Carioca, economista e historiador, professor adjunto do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordenador do curso de Relações Internacionais

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