O Dia Internacional da Síndrome de Down

Redação — Instituto Mosaico
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3 min readMar 22, 2018

Por Bruna Auíry

Foto: Tati Fernandes

Hoje, 21/03 se comemora o Dia Internacional da Síndrome de Down, uma alusão à trissomia do cromossomo 21. A trissomia se define por um cromossomo a mais onde geralmente há dois. Esse cromossomo muitas vezes é chamado de cromossomo do amor, e se você teve o grande prazer de conhecer e conviver com alguém com síndrome de down, sabe do que estou falando. Pessoas com síndrome de down são únicas e cheias de particularidades como todo ser, mas se há uma generalização que cabe se fazer, é sobre o amor que eles possuem e transmitem. Sobre a pureza que aqueles olhinhos puxadinhos trazem e a forma que eles existem e interagem com o mundo.

E esse cromossomo é tão generoso, que, a partir do momento que permitimos que nossas vidas sejam tocadas por alguém com síndrome de down, ele compartilha com as simples pessoas com um cromossomo a menos, ensinamentos que nos transformam. Sim, esse é o cromossomo do amor, mas também é o cromossomo da paciência, da tolerância, do saber comemorar pequenas conquistas. E de entender que elas não são pequenas, que ás vezes só somos nós que exigimos demais. Além disso, ter alguém com a trissomia 21 na vida, possibilita uma nova lente para entender o mundo e padrões.

Tenho um irmão com síndrome de down, ele vai fazer três anos e não anda e não fala. Ele possui toda a assistência possível para o auxiliar com suas deficiências, a maioria das crianças da sua idade já fazem tudo isso, mas ele ainda não anda e não fala. E tudo bem. Isso poderia ser uma questão, mas o observar e acompanhar sua forma de existir no mundo ampliou os meus conceitos e visões.

Eu tenho 23 anos e eu só falo uma língua além do português, e a maioria dos meus colegas de profissão falam bem mais. Tentei com todas as aulas possíveis algum dom artístico e nada foi pra frente, enquanto tenho uma irmã que desenha lindamente e primos que tocam de tudo. Conheço alguém que tem 50 anos e ainda não tem uma casa própria, e a maioria dos seus amigos já estão na segunda. E nada disso é um problema. O ponto é: podemos nos torturar por modelos de um ser ideal e excluir todo um universo de possibilidades de ser, com particularidades e ritmos únicos.

Tenho um irmão com síndrome de down que vai fazer três anos e não anda e não fala, mas engatinha na maior velocidade que já vi, adora ouvir música italiana e sabe acordar alguém com o carinho mais gostoso do mundo. É também é cheio de si e mesmo sem falar uma palavra se deixar, manda no ritmo da casa. Ele tem um cromossomo a mais que o atrasa em muitas coisas, mas foi ele que me ensinou e segue me ensinando a questionar o mundo e olhar o outro além das lentes de conceitos pré formados. Eu, meu vizinho, meu primo e meu irmão não nos encaixamos no modelo um do outro, com dois cromossomos ou três, e é isso que nos torna iguais nas nossas diferenças. Ser diferente é normal.

Que hoje, possamos comemorar esse pequeno cromossomo a mais que faz toda a diferença, e é tão diferente. E em um mundo onde o normal é tão excludente, bagunçado e sem graça, eu saúdo o diferente. Ele me dá a esperança de uma coisa melhor. Uma coisa melhor guiada pelo amor e pela tolerância. Viva o terceiro cromossomo do cromossomo vinte e um, viva o cromossomo do amor.

Bruna Auíry é graduada em Relações Internacionais, mineira radicada no rio e curiosa sobre o mundo

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