O FHC É COADJUVANTE DA TRINDADE DO GOLPE

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readApr 21, 2018

Por Valdemar Figueredo

Foto: Adriana Oliveira/ITV

FHC escreveu o livro “Pensadores que inventaram o Brasil”. Comentários pequenos sobre grandes autores como Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Gilberto Freyre, Celso Furtado, Raymundo Faoro, dentre outros.

FHC é ilustrado quanto aos clássicos da política. Certamente já leu aquele moço que sobre a natureza humana afirmou que os homens são volúveis e ingratos, sempre ávidos por poder, riqueza e glória.

FHC está bem acima da média dos deputados e senadores em termos de erudição política. Para aqueles que votaram pelo impedimento da Presidenta Dilma, não foi suficiente o contraditório dos defensores apelando das tribunas que as biografias seriam manchadas. Os parlamentares ou não têm noção do que isso significa ou simplesmente dão a mínima. Não é o caso do “Improvável Presidente do Brasil”. Notório os esforços do Príncipe de Higienópolis para ficar bem na galeria dos notáveis.

FHC alardeou num dos seus artigos jornalísticos que é preciso que os cúmplices do golpe disputem a narrativa dos eventos. Criar e sustentar as versões. Não é porque os seus artigos são publicados simultaneamente na Folha de São Paulo e no O Globo que devem acomodar. Percebam que a disputa não é eleitoral, tão somente a prevalência de uma versão da verdade.

FHC ainda não percebeu que é tarde demais. Quando eleito Presidente da República, disse que o sociólogo FHC era anacrônico e a Teoria da Dependência ultrapassada. Dessa vez foi mais longe. Na condição de Ex-Presidente sabotou a biografia do Presidente FHC e entrou de gaiato no golpe. O carimbo definitivo do “Presidente que sabia Javanês”.

FHC já esteve melhor acompanhado. Ainda que possamos ter discordância das ideias de personagens como Mário Covas e Franco Montoro, indubitavelmente foram quadros políticos respeitáveis identificados com a Social-Democracia. FHC estava neste patamar e com o diferencial de ter sido Presidente da República. No entanto, desceu à vala comum de um golpe fadado a entrar na história do Brasil como um dos eventos políticos mais grotescos.

FHC liga para os registros históricos e parece agir mais pelo cálculo do que pelo improviso. Quem será que o aconselha? Não creio que seja o Serra, muito menos o Aécio. Duvido que respeite intelectualmente o seu colega de fardão Merval Pereira a ponto de pautar-se pelos seus escritos para fazer análise de conjuntura. Então, o que levou o garboso senhor a sair da galeria dos prestigiosos para entrar na fila atrás do Cunha, Aécio, Maia, Moreira, Jucá, Calheiros, Anastasia, Sarney, Collor, Tiririca e Romário?

FHC disputa a construção da narrativa talvez porque intua que a sua história política estará selada definitivamente como golpista. A grande imprensa brasileira não é parâmetro para medir a popularidade nem a honra de quem quer que seja. No Brasil, o jornalismo de exceção o protege. Mas não custa lembrar que as pesquisas sérias zelam pela qualidade das fontes. Provavelmente tomarão os artigos e entrevistas do FHC sobre o golpe parlamentar-jurídico-midiático como construção de narrativas suspeitas forjadas com desonestidade intelectual.

FHC conquistou riqueza e poder pelos méritos próprios. Maquiavel sugeriu que o sujeito de virtù atrai para si a fortuna. A sorte sorri para aqueles que têm flexibilidade para fazer o necessário para obter êxito político. No entanto, o Príncipe de Higienópolis inquieta-se querendo a glória. Ah, a glória!

Esse item tem a ver com o reconhecimento alheio. Como reconhecer a glória a um político que renunciou o posto de estadista para ser coadjuvante de um golpe que tem Cunha/Temer/Aécio como atores principais?

Sabe quantas universidades estrangeiras estão estudando FHC? Quantas universidades no Brasil oferecem cursos sobre o FHC? Quantos intelectuais estrangeiros estão interessados no pensamento do FHC? Quantos ativistas dos direitos humanos estão indicando o nome do FHC para ganhar o prêmio Nobel da Paz?

Já é possível, em vida, constatar que FHC sequer é coadjuvante do “POLÍTICO PRESO QUE NÃO É UM PRESO POLÍTICO”, segundo ele. O FHC se apequenou e hoje é coadjuvante da trindade do golpe.

Valdemar Figueredo (Dema)

Professor, Escritor e Diretor/Editor do Instituto Mosaico. Doutor em Ciência Política (IUPERJ) e doutorando em Teologia (PUC-RJ)

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