O GOVERNO BRASILEIRO NÃO AVALIA OS RISCOS DA SUBSERVIÊNCIA

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readMar 20, 2019

Por Fernando Roberto de Freitas Almeida

Foto: Isac Nóbrega — Presidência — Palácio do Planalto (Washington, DC — EUA 19/03/2019)

O presidente brasileiro, eleito sem programa de governo, montou uma equipe mediante indicação de nomes pelos setores mais conservadores da sociedade, que nunca teriam capacidade para verem eleita uma plataforma antissocial e antinacional, como a que está sendo implantada. A influência sobre este governo de um astrólogo com formação de Ensino Fundamental ilustra bem a situação complexa do país. Apenas um discurso moralista e de revolta contra todas as instituições bastou (e a ausência nos debates foi fundamental) para o sucesso obtido. Passamos então, a improvisos em áreas consolidadas há décadas, uma de tradição respeitada em todo o mundo, nossa diplomacia, encaminhada pelo Ministério das Relações Exteriores. Seu prestígio é tão grande, que é o único ministério conhecido pelo nome de um palácio, aquele que ocupava quando o Rio de Janeiro era a capital: o Itamaraty. Na ânsia de “fazer diferente”, a política externa retorna à relação com os EUA dos governos Dutra e Castelo Branco, um alinhamento ideológico, não pragmático. Assim, a primeira viagem ao exterior foi a Washington, não a Buenos Aires. Os resultados da visita são favoráveis aos interesses estadunidenses, a saber: isenção unilateral de visto de entrada, aluguel da melhor base de lançamento de foguetes do mundo aos EUA, acordo de cooperação FBI-PF, apoio a uma intervenção militar na Venezuela, isenção da taxa de importação sobre o trigo estadunidense e, com certeza, outras negociações ainda não anunciadas. A repercussão da visita na imprensa dos EUA não foi das melhores:

- New York Times: “Novo presidente do Brasil ameaça os pulmões do planeta”;

- CNN: “Bolsonaro ‘bajula’ Trump”;

- Washington Post: “Vergonha: enquanto Bolsonaro visita Trump, brasileiros tuítam o seu constrangimento”; “Trump vê muito o que gostar no líder de extrema direita do Brasil”;

- Fox News: “Ninguém imitou Trump mais do que o presidente do Brasil. Mas o ex-capitão da extrema direita tem um longo currículo de comentários que são contrários aos valores norte-americanos, especialmente em relação à comunidade LGBTQ. No momento, a relação dele e de sua família com policiais corruptos e gangues paramilitares é que estão fazendo manchetes”;

Conforme a Folha de São Paulo, “a repórter Shannon Bream afirmou com orgulho no Twitter, antes da veiculação de sua entrevista com Bolsonaro na Fox News, que o questionou sobre o assassinato de Marielle Franco. A simples pergunta, ‘Se você teve alguma ligação com aquele assassinato’, provocou ondas de indignação brasileira online contra o canal americano”. Temos por aqui uma indignação sem dúvida diferente.

Para tantas concessões, o governante brasileiro (que foi à reunião com Trump acompanhado de um de seus filhos, mas não do chanceler), obteve apoio ao ingresso na OCDE (em troca da perda de privilégios na OMC) e a sugestão de o Brasil, que fica no Atlântico Sul, ser aceito como membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Tudo isto poderá trazer riscos imensos, não avaliados.

Fernando Roberto de Freitas Almeida, carioca, economista e historiador, professor adjunto do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF)

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