O QUE ESTÁ ACONTECENDO NO EX-PAÍS DO FUTURO

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readMay 13, 2019

Por Fernando Roberto de Freitas Almeida

Brasília — DF, 25/04/2019. Presidente da República, Jair Bolsonaro durante Coletiva à Imprensa após Reunião com Abraham Weintraub, Ministro de Estado da Educação e equipe. Foto: Marcos Corrêa

Em quatro meses de um governo de extrema direita, o Brasil teve um ministro da Educação de origem colombiana (naturalizado aos 57 anos), que se expressava com sotaque e colocou em sua equipe pessoas sem nenhuma afinidade com Pedagogia, trazidos por fidelidade ideológica a um projeto de desmonte da cultura nacional. Tal ministro considerou o povo do país que o recebeu e empregou “canibais”, capazes de “roubar assentos de avião”. Seguiu-se um técnico, que escreve “asinte”, no lugar de acinte, confunde um grande escritor, Franz Kafka, com um churrasquinho árabe, a cafta, erra estatísticas e valores, ofende toda a Academia e procura asfixiar a pesquisa em todas as áreas.

Tudo isto faz parte de um projeto coerente. Afinal, “O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos de desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa”. Tais frases emblemáticas foram ditas pelo capitão-presidente na visita aos EUA, em março. Em 6 de maio, mais de mil acadêmicos das mais conceituadas universidades do mundo assinaram um manifesto contra os ataques à Educação brasileira, feitas por seu próprio governo:

“Nas nossas sociedades democráticas, os políticos não devem decidir o que é boa ou má ciência. A avaliação do conhecimento e de sua utilidade não pode ser conduzida de modo a conformar-se às ideologias de quem está no poder (…) Pensar sobre o mundo e compreender nossas sociedades não deve ser privilégio dos mais ricos”.

A imprensa mundial mostra-se perplexa com a rapidez como o Brasil deixou de ser um protagonista global, para ser um agente irrelevante, incapaz de mediar uma crise em importante país vizinho. Enquanto a economia patina e milhões de desempregados vão percebendo que não terão mais condições de obter uma colocação no mercado de trabalho, este mesmo governo incentiva a posse de armas e procura resolver problemas sociais do mesmo modo que na República Velha: “a questão social é caso de polícia”.

Liberais acreditam que, diante de situação assim, as pessoas afetadas precisam se deslocar em busca de novas oportunidades, afinal, a força de trabalho é “apenas” um dos fatores de produção, como a terra e o capital. Não há solução para quem não puder se mover, esperando-se, então, que se resignem à morte por inanição. Possuidor tão-somente de uma pauta moralista de costumes e sempre anunciando que todos os problemas estarão resolvidos com uma reforma da Previdência (que muitos analistas do setor dizem ser fruto de cálculos equivocados), a situação deste governo não tem como melhorar, por mais que venha a negociar a volta de ministérios, ou criar factoides derivados da insensibilidade, arrogância e ignorância de quem o compõe.

Uma era anti-intelectual e anti-acadêmica se iniciou e deixará sequelas graves. Para explicarmos o que temos implantado aqui, desde janeiro de 2019, um termo tirado do grego vem a calhar: trelocracia, o governo dos loucos, não os de manicômio, mas aqueles que estão soltos, os perversos.

Fernando Roberto de Freitas Almeida

Carioca, economista e historiador, professor adjunto do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordenador do curso de Relações Internacionais.

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