O Rio de Janeiro vive uma situação de colapso

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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4 min readDec 16, 2017

Lula caravaneando pelo Rio de Janeiro

Foto: Ricardo Stuckert. Último ato da Caravana Lula pelo Brasil, UERJ, Rio de Janeiro, 08/12/17

Não é novidade pra ninguém que o Rio de Janeiro vive uma grave crise. Não, não! É pouco falar que é crise.

O Rio de Janeiro vive uma situação de colapso, de total anomia. A roubalheira institucionalizada pelo PMDB é a principal responsável.

Depois da crise do “Mensalão”, em 2005, o PMDB se tornou o principal aliado dos governos petistas.

Temos aqui a o argumento que fundamenta a análise rápida e pouco cuidadosa de quem pensa a política na superfície, sem cuidado:

COLAPSO DO RIO + ALIANÇA PMDB/PT NA POLÍTICA NACIONAL = CULPA DO LULA PELA TRAGÉDIA INSTITUCIONAL NO RIO DE JANEIRO.

Resumindo, esse é o argumento de todos aqueles que culpam Lula e o PT pela crise no Rio de Janeiro.

Trata-se de um atalho analítico, de uma opinião que somente na aparência é uma obviedade em si.

O analista apressado que aciona essa lógica, acaba caindo num erro infantil, pois desconsidera aquele que é o B-A-BA da reflexão política.

O estudo político se debruça sobre as formas como uma sociedade organiza e distribui o poder.

PODER! Este é o termo chave.

Dizer que a culpa da crise do Rio de Janeiro é de Lula porque teriam sido Lula e o PT os responsáveis pelo empoderamento do PMDB, pelo fortalecimento de ladrões como Sérgio Gabral, Pezão e os Piccianis é desconhecer completamente como a sociedade fluminense organiza e distribui os seus regimes de poder desde os anos 1980, desde a queda do brizolismo.

A data-chave dessa guinada pmdebista na política fluminense são as eleições de 1986, que foram caracterizadas pela polarização entre os aliados e os adversários do brizolismo.

Moreira Franco (PMDB) X Darcy Ribeiro (PDT).

Moreira Franco venceu. Esse mesmo que tá ai, sendo Ministro de Temer e nos roubando até hoje,

Ai, meus amigos, de lá pra cá, com a exceção dos governos dos “Garotinhos”, o PMDB passaou a dar as cartas na política flumininense.

O “garotinismo” precisa ser pensado com mais cuidado.

Em meados da década de 1990, Garotinho apareceu como o principal candidato a herdeiro do brizolismo. Se nesse momento, eu já tivesse maioridade política, seria um “garotinista” bem entusiasmado.

E o PT?? Nunca foi forte no Rio. Nunca, jamais!

O PT só governou o Rio de Janeiro durante nove meses, em 2002, quando Benedita da Silva assumiu, depois de Garotinho renunciar para disputar as eleições presidenciais.

Falo aqui, portanto, diretamente aos meus conterrâneos fluminenses: não foram o PT e Lula que entregaram o Rio de Janeiro ao PMDB.

E não foi assim por um motivo muito simples: Lula e o PT nunca tiveram o Rio de Janeiro.

Desde os anos 1980, o Rio de Janeiro é controlado pelo PMDB.

Não foi Lula e o PT quem apoiaram o PMDB.

Foi o PMDB, entendendo que a força política do lulismo era grande o bastante para ser ignorada, que estrategicamente apoiou Lula e o PT, cobrando seu preço, é claro. Um preço bem alto.

Essa aliança jamais se deu entre iguais. O PMDB sempre teve mais mandatos legislativos, mais governos municipais e estaduais.

Foi o PMDB, o dono do jogo, que por um cálculo político estratégico, precisou conversar e se aliar com o lulismo.

É como se o PMDB fosse aquele moleque arrogante, riquinho, que tem a bola de couro, de qualidade. Já o lulismo é aquele neguinho de canela fina, pobre, bom de bola.

O riquinho sacou que tem que deixar o pretinho bom de bola jogar, mas sob controle, no seu time, com as suas regras.

A culpa da crise do Rio, meus amigos, não é do Lula e nem do PT e quem diz algo diferente disso é ignorante ou está mal-intencionado.

Rodrigo Perez Oliveira é doutor em história social pela UFRJ e professor adjunto de teoria da história na Universidade Federal da Bahia (UFBA), atuando na graduação e na pós-graduação. Autor do livro “As armas e as letras: a Guerra do Paraguai na memória oficial do Exército Brasileiro (1881–1901)”, publicado em 2013 pela editora Multifoco, e organizador do livro “Conversas sobre o Brasil: ensaios de crítica histórica”, publicado em 2017 pela editora Autografia.

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