O SEMEADOR E EU

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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2 min readMay 25, 2018

Por Marcelo Santos

Foto: Miro Producciones, Flickr

Há uma estória, no livro sagrado dos cristãos, sobre um semeador. Era um sujeito meio atrapalhado e afeito às estupidezes. Um sujeito não muito inteligente. Tipo eu.

Ele não era muito esperto. Se fosse, seria bem mais assertivo. Se tivesse estudado um pouco sobre agronomia, seria mais eficaz ou eficiente. Sempre me confundo entre os dois termos.

O fato é que ele saiu para semear. E do seu alforje cheio de sementes começou a lançar pequenos grãos de esperança. Idiota que era, achava que ao seu lado fosse florescer um canteiro colorido, como nos filmes de Hollywood. Que seria cercado, emoldurado de perfumadas rosas, bromélias, violetas, copos de leite, cerejeira, cravos, orquídeas, margaridas ou girassóis. De árvores frutíferas.

Mas não. Algumas sementes caíram ao lado do caminho e os pássaros levaram. Outras sobre as pedras. Outras entre os espinhos. O texto não diz, mas imagino que enquanto lançava inadvertidamente as sementes, as pessoas caçoavam dele. “Lá vai o idiota. Não vê que jogar semente no asfalto não brota? Que estúpido! Os passarinhos estão levando tudo embora”.

Só que o semeador, atabalhoado que era, nem escutava. Era uma perfeita versão do clássico filme “Forrest Gump”, dois mil anos antes de Hollywood. Ele lançava e lançava. Talvez por saber que sua sina era essa. Talvez por sentir, no fundo do peito, uma profunda esperança.

O semeador não tinha outra opção a não ser semear. Diz o texto que uma das sementes, apenas uma, caiu numa boa terra. E rendeu e muito. E floresceu. E valeu todo o esforço de uma vida. O semeador, em suas tontices, acertou a mão. A profunda esperança do semeador é também a minha.

Ele, tipo eu.

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Marcelo Santos é jornalista e escritor. Escreveu para as principais publicações evangélicas brasileiras. Atualmente trabalha como ghostwriter e escreve reportagens para publicações do SESC e da Rede Brasil Atual. É pai de Guilherme, Caio e Gustavo.

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