Olhos que abraçam a beleza do mundo: inspiração necessária para seguir adiante

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readJun 6, 2019

Por Carlos Netto

Foto: Edward Zulawski, Visualhunt

Ao longo das semanas escreverei histórias de pessoas que me inspiram. Ninguém estará sozinho. Serão encontros promovidos pelo olhar. O Eu no Outro. E o Outro no Eu. Imagine a narrativa de um bombeiro que resgata um dos sobreviventes do crime ambiental em Brumadinho. Essa narrativa se completa diante da descrição do resgatado sobre o olhar de quem o resgatou. Ou a narrativa de um artista do corpo de ballet de cegos sobre o olhar do público. E do público sobre o olhar do artista que dança diante dele, mesmo sem a visão. Quem sabe não teremos o olhar do atacante na cobrança do pênalti, mas na perspectiva do goleiro. E o olhar do goleiro a partir da narrativa do atacante. Desejo transformar isso em um documentário. Por ora é um sonho, mas dou notícia ao mundo — o meu mundo — daquilo que pretendo de mim mesmo.

Quero falar de encontros que revelam olhares. Acredito que o homem só assume o clarão de divindade que o habita quando desiste de salvar-se sozinho e se dirige ao olhar do Outro. Nunca alguém só. Será uma troca de olhares, mesmo que através de cartas. Recentemente descobri texto de Platão sobre a resposta de Sócrates a Alcebíades. É o prelúdio sobre a série que inicio aqui. Antes de apresentar Agnes e Leonard, minha primeira história, real, peço que saboreie cada frase de Sócrates. Devagar. Sem pressa. Meu desejo é que esses olhares alcancem a beleza do mundo que resiste, apesar de…

Que coisa haveremos de olhar para que nos vejamos a nós mesmos? Não notaste que, quando olhamos o olho de alguém que está diante de nós, nosso rosto se torna sensível nele, como num espelho, naquilo que é a melhor parte do olho e o que chamamos de pupila, refletindo, assim, a imagem de quem olha? Desse modo, o olho, ao considerar e olhar o outro olho, na sua melhor parte, assim como a vê também vê a si mesmo. Portanto, se o olho quiser ver-se a si mesmo terá que dirigir o olhar para um outro olho e precisamente para aquela parte do olho onde se encontra a faculdade perceptiva. Essa faculdade chamamos de visão. Se a alma deseja conhecer-se a si mesma deve olhar para uma outra alma em sua melhor parte e ali onde se encontra a faculdade própria da alma, a inteligência ou algo que melhor se assemelhe. Essa parte é realmente divina e quem a olha descobre o sobrehumano, o divino, e, assim, conhece melhor a si mesmo. E conhecer-se a si mesmo, não é o que chamamos de sabedoria? (Platão em “Alcebíades).

Grato Platão por olhar Sócrates com atenção. E, ao mesmo tempo, se revelar a nós.

Carlos Netto

Bacharel em História (UFF), mestre em História Social (UERJ), mestre em Ciência da Informação (UFRJ), Doutor em Psicologia (USP) e Pós-doutorando em Comunicação Social (USP). Pesquisador associado da Universidade de Coimbra, Portugal. Professor da FIA-USP. Coordenador do trabalho voluntário A Arte Abraça Brumadinho. Membro do Conselho da Fras-le, em Caxias do Sul. Foi diretor do Banco do Brasil por 7 anos.

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