Onde está a Igreja?

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readSep 1, 2017

O projeto de comunidade de fé criado pelo nazareno não cabe em nenhum modelo institucional

Foto: Dalila Barbosa, Flickr

Em tempos líquidos como diria o saudoso Bauman, instituições que outrora agiam como legitimadoras da vida social encontram-se em descrédito. Infelizmente a instituição igreja evangélica, que é o lugar de onde falo, não foge a essa realidade. Em tempos assim pensar na essência daquilo que acreditamos é um exercício interessante. Afinal onde está a igreja de Cristo em um contexto tão embaçado como o nosso? Na verdade, está onde sempre esteve, por mais que pareça o contrário.

O projeto de comunidade de fé criado pelo nazareno não cabe em nenhum modelo institucional. Não há no mundo instituição capaz de abarcá-lo. É um projeto pautado na horizontalidade, na igualdade, no compartilhar, no abrir mão, no viver em prol do bem do próximo, no perder, no ser, na beleza do ser humano, no compromisso com a justiça em todas as suas formas.

Posso garantir que este projeto não está falido. Posso vê-lo tanto no passado, quanto no presente. No passado o vejo no engajamento de pessoas e comunidades de fé contra o fim da escravidão, na origem do pentecostalismo quando possibilitou a encarnação de Cristo na simplicidade de muito de seus membros. No presente o percebo no dia a dia de diversas comunidades de fé, independente da diversidade de suas teologias. Em grupos que deixam seus afazeres para visitar hospitais, lares, com o objetivo único e simples de compartilhar amor. Nos laços de afeto que em muitos casos proporcionam restauração da dignidade de indivíduos totalmente desacreditados.

A igreja de Jesus está no relacionamento sincero de pessoas que fazem de suas vidas um servir constante ao próximo. Está em comunidades que se mobilizam inteiramente para ajudar alguém que passa por dificuldade, que estendem as mãos para aqueles que ninguém jamais estenderia. Está naquele ambiente em que muitos tiveram a única oportunidade de aprender ler. Onde outros encontraram uma possibilidade de vida muito diferente daquela que lhes era oferecida nos lugares onde viviam. Onde indivíduos aprendem cotidianamente a se expressar, a discordar, a amar.

O projeto do Nazareno convida-nos a sermos humanos ao invés de hipócritas travestidos de uma falaciosa santidade. Ele convida a mudar-nos a nós mesmos ao invés de queremos mudar os outros. Nos convida a sermos além de inconformados com as injustiças que regem a sociedade, comprometidos com a sua transformação.

Ah… essa igreja até está presente em muitas instituições. Mas, nenhuma instituição é a igreja de Cristo. Ela está no cotidiano de pessoas comuns que se reinventam e vivem o EVANGELHO no dia a dia.

Anderson José L. Baptista

Professor no município do Rio de Janeiro, graduado em teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana e em História pela Universidade Estácio de Sá. Mestre e doutorando em educação pela Universidade Federal Fluminense. Suas pesquisas transitam nas áreas de Educação de Jovens e Adultos, Políticas Públicas e Educação Popular.

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