Pastor Petralha e Esquerdopata: É melhor Jair me acostumando?

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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4 min readOct 31, 2018

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Por Valdemar (Dema)

Foto: Claudia Almeida

Os termos pejorativos dirigidos a mim neste conturbado período de eleições foram usados no sentido de me desqualificar como pastor. Bem, olho nos olhos da minha família, dos meus alunos e da minha comunidade de fé sem constrangimentos. Quem me conhece sabe quem eu sou. Gosto também de me olhar no espelho e me considero uma pessoa bem legal. Quanto aos detratores, “eles passarão, eu passarinho”.[1] A minha trilha sonora no mês de outubro de 2018 foi: “Só não lavei as mãos e é por isso que me sinto cada vez mais limpo”.[2]

Desejo o melhor para o Presidente legitimamente eleito. Quero mesmo que ele tenha um mandato que vá muito além das nossas expectativas e que a cada dia os seus eleitores tenham mais orgulho dele. Que os eleitores do Haddad se surpreendam positivamente com a performance do Jair Bolsonaro na condução do poder executivo.

Que nesses dois meses se desnude do candidato polêmico e se revista como estadista. Que nesses dois meses tenhamos tempo para trocar o manto do eleitor pelas vestes do cidadão que está disposto a colaborar para o bem da nação.

Democraticamente eleito chefe de Estado e chefe de governo pela maioria dos eleitores. Não foi meu candidato, mas será meu Presidente.

Pela tradição da democracia, caso o futuro Presidente transgrida os princípios constitucionais e ameace as liberdades, democraticamente serei oposição e serei resistência. Caso o Presidente fira os princípios rudimentares do Estado Laico, como alguém que ama a Deus, a Igreja e o País, eu vou gritar contra.

Para #JairMeAcostumando, zerei o que foi dito em campanha e até mesmo na sua longa trajetória política. Agora, sem pré-conceito ou pré-juízo, ficarei esperando o melhor e julgarei o Jair pelo exercício da Presidência e não pelo seu passado.

Outra coisa, nesse exercício de #JairMeAcostumando, estou trabalhando a cabeça para olhar mais para os eleitores do Bolsonaro que deram o seu voto num candidato e não num messias. Gente séria que criteriosamente fez a sua escolha dentro do quadro eleitoral que tínhamos. Gente que sabe conversar e ouvir vozes divergentes. Gente que se não sabe o que quer, sabe com certeza o que não quer. Tais eleitores jamais podem ser desqualificados como fascistas ou totalitários. Jamais.

Quanto aos eleitores do capitão que são mal-educados, violentos, hostis e literalmente ignorantes, eu os perdoo porque não sabem o que fazem, muito menos o que falam sobre política. No entanto, não posso transferir esse “índice de rejeição” em relação a essa gente chata para o meu futuro Presidente.

Para #JairMeAcostumando, vou trabalhar a minha cabeça para avaliar o Presidente não pelos seus eleitores que o põe na condição de mito. Prefiro olhar e conversar com os eleitores do Bolsonaro que estão acreditando no projeto que ele encarna. Dessa forma conseguirei ser mais generoso e compreensivo com o chefe da nação e não assumirei o papel do “sou do contra”.

Agora é #EleSim. Não estou contra o Brasil, muito menos contra os eleitores do Bolsonaro. Quero que dê certo. No que depender de mim, a transição do governo haverá de ser um período para #JairMeAcostumando.

Entender um princípio básico da democracia: situação e oposição. É típico do funcionamento democrático a existência da oposição. Quem a faz não está contra pessoas ou contra a nação. No embate das ideias, podemos e devemos ser propositivos e bem-intencionados.

A vontade da maioria expressa no voto constitui governo democrático legítimo, mas isso não subtrai os direitos das minorias. Nas democracias, as minorias têm direitos e são levadas a sério. Imagino que aqui entre nós não haverá rompante de “ditadura da maioria”. Que o presidente frustre as massas raivosas e honre o Estado Democrático de Direito.

Para #JairMeAcostumando, termino aqui e vou tomar uma boa taça de vinho em homenagem às pessoas honradas que “não lavaram as mãos e é por isso que se sentem cada vez mais limpas!”

Salve, salve, Brasil!

Salve, salve, Professor Fernando Haddad! Muita honra em ter votado no senhor!

Que Deus abençoe o futuro Presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro!

[1] Mario Quintana

[2] Ivan Lins

Valdemar Figueredo Filho. Professor, Pastor e Diretor/Editor do Instituto Mosaico. Doutor em Ciência Política (IUPERJ) e doutorando em Teologia (PUC-RJ)

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