PEDRO CASALDÁLIGA: ENTRE O FRANQUISMO E A DITADURA

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readAug 14, 2019

Por Valdemar Figueredo

Pode vir alguma coisa boa da aldeia de Balsarei? Pedro Casaldáliga Plá nasceu em 16 de fevereiro de 1928. Portanto, no ano em que escrevo este artigo, o Catalão Casaldáliga recebe homenagens pelos seus 90 anos.

A Guerra Civil Espanhola aconteceu entre 1936 e 1939. Os Falangistas liderados por Francisco Franco, apoiados pelos setores tradicionais da sociedade espanhola (Igreja, Exército e proprietários rurais), alimentavam o discurso de anticomunismo. Teve como apoiadores externos a Alemanha nazista e a Itália fascista.

A Frente Popular opunha-se ao golpe querendo garantir a democracia espanhola. Coesão política entre sindicatos e partidos de esquerda. Contava com o apoio externo da União Soviética. A Guerra Civil sangrenta terminou em abril de 1939, quando começou a ditadura chefiada por Francisco Franco. Ditadura fascista que ficou conhecida como Franquismo.

Setores da Igreja espanhola foram cúmplices e vítimas da Guerra Civil.

Pedro Casaldáliga desembarcou no Brasil em 26 de janeiro de 1968. Aqui grassava a ditatura militar sem o capítulo da guerra civil. O então legítimo presidente da República, João Goulart (1918–1976), abdicou do posto justamente para evitar a eminente guerra civil. “Jango” foi deposto pela junta militar em 1964 sob a acusação de que queria implantar o comunismo no país.

Setores da Igreja brasileira foram cúmplices e vítimas do golpe que culminou na ditadura militar.

O que precipitou a Guerra Civil espanhola em julho de 1936? É fato que a Europa em crise era um barril de pólvora. Pós Primeira Guerra e as vésperas da Segunda Guerra Mundial. Conflitos que denotam afirmação das nacionalidades e demarcações das fronteiras. Neste tempo, que desavisados poderiam caracterizar como hiato, intervalo ou vala histórica, processos abrangentes vividos na Espanha comprovam o quanto a noção de nação evoca os sentidos de construção e contingências e não o de natureza.

No raiar da virada do século, em pleno ano 1900, a Espanha fazia lembrar bem mais as dinastias absolutistas medievais do que uma nação europeia na modernidade. País agrário, alto índice de analfabetos, forte influência clerical e fraca industrialização. Diante do quadro interno precário, a Espanha tornava-se vulnerável as crises econômicas externas (BUADES, 2014, p. 18).

A classe média no Brasil mostrou-se entusiasmada com o golpe militar em 1964. Havia a esperança que com o golpe ocorreria o rápido processo de recuperação econômica. Assim como eram receptivos ao discurso que postulava o combate extensivo a corrupção e ao comunismo, a classe média ansiava por um golpe rápido contra a inflação. O projeto consistia na retomada econômica via investimento do capital internacional aliado a condução política via ditadura militar. Sendo que, em 1968 era possível verificar o desencanto da classe média: “O golpe fora bem-vindo para garantir a sua participação política. Seus direitos e prerrogativas. Para deter a inflação, preservando, porém, o seu poder aquisitivo (REIS FILHO, 2008, p. 20).

Alguns eventos marcantes do ano de 1968: acirramento da linha dura da ditadura (Ato Institucional nº 5 — AI-5); rebelião estudantil (Passeata dos cem mil); desencanto da classe média (o apoio ao regime golpista deixou de ser incondicional). Exatamente neste ano “mítico” da história do Brasil é que chega ao país o Padre Pedro Casaldáliga, então com 40 anos de idade.

Valdemar Figueredo (Dema)

Professor universitário, escritor e pastor. Editor e colunista do Instituto Mosaico. Graduado em Teologia (STBSB, 1993) e em Ciências Sociais (IFCS-UFRJ, 2000). Mestre em Ciência Política (UFRJ, 2002), Doutor em Ciência Política (IUPERJ, 2008) e em Teologia (PUC-RJ, 2018).

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