Psicologia Organizacional

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
Published in
4 min readOct 20, 2017

Nossa capacidade laboral está ligada ao senso de grupo

Foto: Divulgação. Endeavor Brasil

De forma geral, o pensamento da liderança como atributo pessoal veio como modelo predominante até o século XX. Na virada do século surgiram os primeiros artigos sobre liderança coletiva. É mais cômodo para a maioria atribuir a algum herói certas mudanças de ordem profunda na sociedade, ao invés de admitir o papel imprescindível da coletividade nessas mudanças. Com a eclosão da guerra e ao longo da segunda década do século XX, no movimento inicial de recuperação da sociedade do pós-guerra, foi implementada a chamada Administração Científica — seja na forma proposta por Ford, como na de Fayol. O que se esperava? Essas teorias tinham uma validade de construto muito forte. Esses conceitos propostos por todos eles eram de tal forma consistentes e observáveis que ganharam força. Eles esperavam que os conflitos fossem resolvidos com a implementação disso: observar e estabelecer técnicas de ajuste na produção. Era como se a organização da produção por si só fosse capaz de resolver as questões presentes no cotidiano.

O muro da Administração Científica começou a rachar quando as fábricas começaram a enfrentar o problema dos movimentos de massa. O trabalhador, já antes da Segunda Guerra, tinha se organizado, inclusive em partidos políticos. O conflito foi tanto, na relação capital e trabalho, que chegou uma hora que não se podia mais ignorar o tema na administração da produção.

A teoria da Administração Científica não dava mais conta da realidade dos fatos. Começou a ganhar força uma forte movimentação dos cientistas sociais para tentar estudar isso. Trabalhadores caíam doentes e o trabalho nas fábricas exigia muito do ser humano do ponto de vista físico e mental. Os proprietários e gerentes não entendiam a revolta dos trabalhadores, as baixas, o fortalecimento da organização sindical, etc… Diziam, “Eu dou tudo para você e você faz isso?” Então eles começaram a contratar cientistas sociais e psicólogos, como Dickinson e Mayo, para estudar o tema. E aí nasceu a Psicologia Organizacional.

O que eles descobriram nesses vários experimentos? Primeiro eles concluíram que a capacidade de trabalho não é meramente uma questão de ordem física. A capacidade do trabalhador está vinculada ao social, porque o trabalhador não reage como indivíduo, mas sim como membro de um grupo.

Nossa capacidade laboral está ligada ao senso de grupo.

Não é, portanto, uma questão meramente individual. Ele não reage como indivíduo apenas, mas como membro de um grupo que está lá encarnado nele. Esse movimento é importante porque o trabalhador não é visto mais somente como um indivíduo. Ele é visto como um indivíduo dentro de um grupo. O grupo passa a ter grande importância, principalmente pela sua capacidade de mobilização, organização e influência.

Seguindo nossa história, não demorou muito e em 1934 apareceram grandes referencias do pensamento social que tiveram grande influência na Psicologia Social — como Kurt Lewin. Lewin desenvolveu os conceitos de Identidade Pessoal e Identidade Social — ele trabalhou a relação eu-outro. Ele foi a base do interacionismo simbólico. É a partir da relação eu-outro que se dá o interacionismo simbólico. O que aconteceu a partir daí é que começaram a aparecer várias teorias. A teoria estimulou perguntas como: De onde vem esse poder que uma pessoa tem sobre as outras? Vem da pessoa, da posição ou da interação? Qualquer influência se constitui liderança? Que mecanismo explica essa influência?

No último sábado eu parei para conversar com o vigia da minha rua e perguntei para ele brincando, a propósito das próximas eleições — “Você não vai me trair, não vai deixar de votar em mim, hein?” Não sou candidato a nada e brincamos um com o outro sobre o futuro do Brasil. Ele me respondeu dizendo que iria votar no Alckmin, mas acrescentou que as pesquisas apontavam outros candidatos e aí ele estava indeciso. Então você percebe um mecanismo de influência. Eu quero estar na corrente da maioria. Isso pode até criar um efeito que influencie o processo eleitoral. Isso dá uma sensação de poder. Assumimos posições para estar com a maioria? Assumimos posições para nos associar a quem deterá a representação do poder? São questões do processo de interação grupal.

Carlos Netto. Diretor de Estratégia e Organização do Banco do Brasil. Graduado em História Social (UFRJ), Mestre em Comunicação Social(UFRJ) e Mestre em História das Relações Internacionais (UERJ)e Doutor em Psicologia Social (USP).

--

--