SERENIDADE É O CONTRÁRIO DA ARROGÂNCIA

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readJan 6, 2020

Por Valdemar Figueredo (Dema)

Foto: Norberto Bobbio, Divulgação

Parece-nos bem provável caracterizar a geração técnico-científica enquanto vanguarda sempre ávida por novas possibilidades. O elogio aos memoriais que falam do passado tem a sua importância, mas nada que se aproxime ao elogio àqueles que são capazes de gestarem novos projetos. A era da intensificação da velocidade na culminância da superação do tempo e espaço fabrica não apenas produtos para o comércio, mas também valores para o consumo pessoal e para orientação da vida social. Os valores são “fabricados” numa velocidade espantosa.

Os cursos de ética geralmente partem dos tratados sobre as virtudes de Aristóteles e Kant. Comparar Ética a Nicômacos com Metafísica dos costumes é certamente um caminho promissor para situar a ética. Notadamente, postulações kantianas que distinguem dever interno do dever externo.

Na sua revisão da literatura pertinente ao estudo da ética, Bobbio afasta-se da tendência predominante de contraposição entre virtudes e regras como se o acento estivesse numa vertente ou noutra. “Em vez de contrapor virtudes e regras, seria bem mais sábio analisar a relação entre elas.” (BOBBIO, 2002, p. 33).

Definição de serenidade. Nem individualismo introspectivo, muito menos passividade. “Serenidade é a única suprema potência que consiste em deixar o outro ser aquilo que é.” (BOBBIO, 2002, p. 35). Além da beleza plástica, essa definição de Carlo Mazzantini posiciona a serenidade no que ela tem de social e potência ativa. Por certo, essas noções não são óbvias no uso corriqueiro do conceito.

Coloquemos num quadro a distinção elaborada por Bobbio, ressalvando que não há por parte dele nenhum esquematismo positivista nem a comparação entre o melhor e pior ou positiva e negativa. O autor traça uma comparação qualitativa, analítica.

“Acima de tudo, a serenidade é o contrário da arrogância, entendida como opinião exagerada sobre os próprios méritos, que justifica a prepotência.” (BOBBIO, 2002, p. 39).

“Com maior razão, a serenidade é contrária à insolência, que é a arrogância ostentada. O indivíduo sereno não ostenta nada, nem sequer a própria serenidade.” (BOBBIO, 2002, p. 39).

Num tempo em que sob o argumento falacioso da suporta eficiência técnico-científica, os poderosos fabricam valores volúveis. Quem pondera na era hiper moderna pode ser considerado lento e até inapropriado para o ser enquadrado como hábil produtor ou voraz consumidor.

Sempre bom lembrar que no império das máquinas quem se humaniza se distingue.

Pela serenidade, mesmo num ambiente de tanta arrogância.

Valdemar Figueredo (Dema). Editor do Instituto Mosaico, professor universitário e pastor batista. Doutor em Ciência Política (IUPERJ) e em Teologia (PUC-RJ).

Twitter: @ ValdemarDema2

Leia também os outros dois artigos referentes a Norberto Bobbio:

www.institutomosaico.com.br

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