SUICÍDIO DE PASTORES

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readDec 16, 2017

Dois novos casos neste dezembro

Ao ler o relato de dois, sim, dois pastores que deram cabo à vida, percebo o quanto muitos ainda não sabem o que significa, hoje, ser um pastor. E pior, me entristece saber que muitos pastores não sabem ainda o que significa ser homem, ou ser humano.

Já lidei com gente impiedosa, mas que arrotaram santidade e amor a Deus. Já convivi com pessoas que em nome do seu amor ao Senhor, massacraram pastores, desde a humilhação financeira a exposição moral.

A grande questão é que tais homens não podem falhar. Não tem esse direito. Não possuem lastro para serem 99%. O 1%, se tiver gravidade é imperdoável.
Muitos homens não aguentam a pressão de terem que orar mais do que os outros, de serem mais íntegros do que todos. Só podem conjugar o verbo mais que perfeito, todos os dias: Eles acertaram!

As pessoas podem falar o que quiserem, mas se algo sai de sua boca que contraria, constrange ou magoa, ele é detratado.

As pessoas não conhecem o bastidor da vida religiosa cristã. Não sabem como funciona uma “reunião de obreiros” esquentada.

Não, não sabem quando alguém “influente” é contra o pastor, e o que acontece no submundo da religiosidade humana. Como sempre acham que ele quer levar vantagem, ou sempre é acusado de uma outra intenção.

As pessoas para protegerem Deus ou a instituição, são capazes de tudo, absolutamente tudo. Ou ainda, quando não tem a ver com Deus, mas tem a ver com orgulho, vaidade, poder, são capazes de atitudes que beira a barbárie, considerando a religião.

Pastores se matam porque erraram e tem mais medo da exposição humana do que de Deus. Se matam porque não suportam parecer algo que não são. Se matam porque ouviu, ao longo da vida, tantas confissões, tantos problemas, tantas dores, que jamais foi capaz de fazer a sua confissão, resolver o seu problema ou curar a sua dor.

Quando vejo pessoas narrando o suicídio, discutindo teologicamente o fim de quem tirou a própria vida, me dou conta realmente que não sabem o que a vida do pastor significa.

Um dia escrevi aqui, aliás, já escrevi e falei: morro de medo de gente santa!

Prefiro os quebrados, feridos, tortos e esculhambados, mas sinceros, aos que são paladinos da verdade, mas escondem-se numa capa obscura de impiedade. Prefiro sentar à gruta, com os sem pedigree, a ter que andar com aqueles que transformaram Deus em suas imagens e semelhanças.

Pastores morrem, todos os dias, até aqueles que você vê sorrir no próximo domingo, pode já ter tirado a vida, só não teve coragem de contar para ninguém.

Wellison Magalhães Paula
Pastor da Primeira Igreja Batistas do Grajaú, Rio de Janeiro. Graduado em Teologia e Comunicação Social.

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