Um enorme projeto destrutivo. É preciso saber contê-lo

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readOct 9, 2017

A reserva ambiental na Amazônia que o governo pretende extinguir

Vista do parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Amapá. ACERVO/ICMBIO. Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (RENCA)

Há algumas semanas, os brasileiros souberam da existência de uma colossal reserva ambiental na Amazônia, a Reserva Nacional do Cobre e Associados, criada em 1984. Souberam dela apenas quando a imprensa informou que o governo federal pretendia extingui-la. Maior do que o estado do Rio de Janeiro (46.450 Km² contra 43.696 Km²) e do que a Dinamarca (42.916 Km²) seu nome denota a riqueza mineral que possui, sob espesso manto de floresta equatorial. A proposta de extinção está associada à lógica liberal-conservadora da coligação de facções políticas que chegou ao poder em 2016. Alegando racionalizar a exploração da área, de fato, além de permitirem devastação, levariam à invasão por grupos estrangeiros. Precisamos observar que, em termos de posicionamento oficial quanto à inserção do Brasil no sistema internacional, atualmente, a referência adequada é exatamente à da tentativa de volta a um padrão anterior ao que o país adotou, durante a maior parte de sua história republicana, ou seja, as versões do que por aqui se tornou de fato uma ideologia, o Desenvolvimentismo.

A visão atual é coerente com a de antes de 1930, denominada “paradigma liberal-conservador”, pelo diplomata Amado Cervo. O padrão desenvolvimentista foi destruído nos anos 1990, substituído pelo neoliberal e, no início do século XXI, procurou-se restabelecer algo de suas ideias. A este processo, alguns chamaram Novodesenvolvimentismo, a partir do professor Luís Carlos Bresser-Pereira. Outros preferiram usar o nome de “Social Liberalismo”, como o professor Rodrigo Castelo. De todo modo, buscava-se preservar o mercado interno para o empresariado nacional, bem como ajudar na expansão de grandes empresas brasileiras no exterior. Imaginar que deixariam a Amazônia falar por ela mesma seria querer demais, afinal, raras vezes isso foi feito. A maioria dos projetos para a região veio de fora, podendo-se lembrar da megalomania da Transamazônica dos tempos da ditadura militar, que tratava a região como um vazio demográfico a ser ocupado por contingentes de migrantes de regiões muito povoadas.

A complexidade da imensa floresta, que não é só brasileira (abarca cinco idiomas europeus — espanhol, francês, holandês, inglês e português — e, pelo menos, 180 idiomas nativos, de 240 povos diferentes) é impressionante. Qualquer projeto que não a considere será apenas manifestação de um colonialismo interno. Isso não pode ser ignorado e, pelo menos, diante da repulsa que destruição da Renca provocou, essa atitude lesiva e regressiva foi cancelada. Todos os projetos para a região devem considerar a preservação dos ambientes naturais e humanos também. Isso deveria ser óbvio, mas não é, e a própria ideologia desenvolvimentista trouxe à região a destruição em nome de um pretenso progresso. Há uma imensa dimensão temática a ser abordada e a evolução dos estudos do que seria uma “Ecossocioeconomia”, mais do que uma Economia Ambiental, está, felizmente, em andamento.

Fernando Roberto de Freitas Almeida, carioca, economista e historiador, professor adjunto do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF)

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