UM HOMEM DE DEUS

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readOct 10, 2017

Ariovaldo Ramos

Foto: Marcelo Santos

Ele é o maior nome evangélico na luta pelos direitos civis no país, atualmente. Refiro-me ao pastor Ariovaldo Ramos, líder da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. Pouca gente sorveu da vida tanto sabor e dissabor. Conheceu tanta honra e tanto desprezo.

Ari, até bem pouco tempo, era ‘o cara’ entre os cristãos evangélicos. Formado em teologia, pela Universidade Metodista, chegou a cursar filosofia na Universidade de São Paulo (USP), mas não concluiu o curso. Foi presidente da Organização Visão Mundial, da Missão Kairós, pastor da Comunidade Cristã Reformada em São Paulo, ex-presidente da Aliança Evangélica Brasileira (AEB), missionário da SEPAL (Servindo Pastores e Líderes), representante evangélico no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) e mais uma coleção infindável de ações e ocupações o legitimavam a falar em qualquer púlpito desta nação — e também fora dela. Todos queriam ouvi-lo. E Ari falava.

Denunciava, sem medo, a desigualdade social e as injustiças. Falava sobre as minorias. Atuava no combate ao racismo. Apontava caminhos para a igreja cristã contribuir na mitigação dos problemas da cidade e do campo. Incentivava as pessoas que o propósito das igrejas não deveria ser enriquecer ou ser politicamente influente, mas encarnar os valores do reino de Deus, manifestos em amor e justiça. Isso na vida pessoal e na comunitária.

Mas aí veio a estúpida e intolerante polarização política no Brasil. E Ari foi contado como um ‘perigoso progressista’; um ‘inimigo’. E, ao invés de ouvi-lo, passaram a acusá-lo de forma covarde e mentirosa.

Gente sem o menor histórico de luta o desqualificava pelas redes sociais. Gente sem escrúpulo nenhum o rotulava e o acusava, mesmo sem nada provar. Amigos o traíram. Igrejas lhe fecharam as portas. A mensagem de justiça, tão comum nos lábios de Ari, não era mais bem-vinda nos templos. E ele, coerente como sempre foi, pagou o preço e não mudou seu discurso para agradar aos que agora bufavam contra qualquer sinal progressista.

Eu tenho ouvido o Ari. E tenho caminhado por perto. Geralmente o encontro cercado por pessoas simples, quem nem sabem da estatura ética e a importância histórica que tem aquele senhor de 61 anos. Não fazem noção que aquela mão que os afaga e os abraça já abraçou e afagou as mais importantes lideranças deste país e de outros também.

Encontrei o com os pés sujos de terra do acampamento de pessoas pobres e sem teto, em São Bernardo do Campo, numa tarde de domingo. Encontrei o na sala de uma ocupação onde 40 famílias se desesperavam com a iminência de um despejo. O vi num prédio velho e em péssimas condições de um sindicato de trabalhadores, no centro da cidade. Trocamos algumas palavras pelas ruas da Cracolândia, também na região central da capital paulista. Esses têm sido os lugares mais comuns para achá-lo. Nas ruas ou com gente que sofre e procura um teco de esperança. Que aguarda as boas novas de salvação. Ari sempre está por lá. Ariovaldo Ramos, um homem de Deus.

Marcelo Santos é jornalista e escritor. Escreveu para as principais publicações evangélicas brasileiras. Atualmente trabalha como ghostwriter e escreve reportagens para publicações do SESC e da Rede Brasil Atual. É pai de Guilherme, Caio e Gustavo.

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