VOLTA À CIVILIZAÇÃO

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
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3 min readNov 7, 2022

Por Fernando Roberto de Freitas Almeida

Foto: Reprodução / Facebook

A maior parte dos eleitores brasileiros entendeu que as mensagens postadas em todas as redes sociais — e mesmo na grande imprensa — alertando para um confronto entre civilização e barbárie eram sérias e verdadeiras. Tivemos, desde 2018, um processo de afastamento do sistema internacional, além do encaminhamento e implementação de propostas danosas não apenas às gerações atuais, mas também e, principalmente às futuras.

Todas as formas de violência, num país que sempre foi violento, aumentaram, embora o presidente derrotado insista em afirmar o oposto. Deve-se lembrar que o conservadorismo estrutural brasileiro, mantido por uma elite de renda que, de fato, não gosta do país, vendo-se como estadunidense (ou os mais sofisticados, como europeia) nunca deixará de procurar conter avanços de interesse da maioria (não de “minorias” que estes grupos consideram contrárias aos “valores tradicionais” de uma hipotética família padrão). Para isso, lançará mão de todos os recursos, desde que tenham alguém capaz de bancar os retrocessos. Se for pela via da infiltração e destruição das instituições através da política convencional, menos mal, para eles, aliás, muito aceitável. Se for preciso apelar ao fascismo, à manipulação de informações, por mais bizarras que sejam as mentiras, até querer que as Forças Armadas ajam, para acabarem com a liberdade, em nome da “Liberdade”, tudo bem.

O candidato derrotado foi o primeiro presidente a concorrer à reeleição que não venceu no primeiro turno e o primeiro que foi vencido no segundo turno. Sua inadequação ao cargo sempre foi evidente. Na redemocratização, foi o primeiro a não dar os parabéns ao vitorioso e demorou 45 horas para se manifestar, trancado no Palácio, produzindo um discurso de menos de três minutos, compatível com o aplicativo TikTok. Contudo, logo nas primeiras 24 horas do pleito:

- a França foi o primeiro país a parabenizar e anunciar retomada das boas relações;

- os EUA logo seguiram os franceses e declararam intenção de melhorar o relacionamento, inclusive comercial, e com foco em questões ambientais;

- Noruega e Alemanha anunciaram recuperação do Fundo Amazônia;

- a China anunciou mais compras de mercadorias

- a União Europeia expressou preferência por Lula no G20, em novembro, não o presidente em exercício;

- o Egito, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e estados do Nordeste brasileiro convidaram Lula a participar na COP 27, também já em novembro, em Sharm El Sheikh;

- a Rússia anunciou desejo de ampliar negócios;

- o presidente da Argentina prontamente visitou o presidente eleito.

Mantendo o padrão bizarro, horas após o resultado do pleito, enorme articulação em redes sociais levou a bloqueios em estradas vitais ao funcionamento da economia. Desabastecimento, cancelamento de compromissos, inclusive médicos, perda de aulas, até a morte de um motorista aconteceram, na expectativa absurda de reversão da eleição.

Agora, é trazer de volta o país ao mundo civilizado.

Fernando Roberto de Freitas Almeida

Carioca, economista e historiador, professor adjunto do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordenador do Curso de Relações Internacionais

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