“What Ted saw” (O que Ted viu)

Redação — Instituto Mosaico
Instituto Mosaico
Published in
2 min readOct 4, 2017

Eu consigo ter empatia pela Kim

Auto-retrato de Kim Nobles

Uma imagem circulou nas redes nas últimas semanas e vem sendo associada à mostra Queernuseu, do Santander Cultural em Porto Alegre (RS), exposição que gerou uma polêmica enorme nos últimos dias.

De acordo com algumas postagens, a pintura estava lá fazendo “apologia” à pedofilia e todo tipo de amoralidades. Não há como negar, o desenho parece mesmo retratar a cena de um abuso infantil.

Os traços, perturbadores, lembram o de uma criança. E de fato são. E não estavam na mostra Queermuseu. A pintura é de uma artista plástica britânica chamada Kim Nobles, vítima de um transtorno psiquiátrico dissociativo conhecido como “múltiplas personalidades”.

É como se em seu corpo morassem dezenas de ‘almas’ diferentes. E, muitas delas, são pintoras. A arte foi a forma de organizar sua caótica psique, vilipendiada (pra usar a palavra da moda que parece um palavrão) após uma infância de abusos e violência. O desenho polêmico que repercutiu nas redes sociais se chama “What Ted saw” ( O que Ted viu) e foi assinada por uma das suas personalidades, a Ria Pratt, uma menina de doze anos. Incomoda, enoja, choca, da repulsa e irrita. Mas se ‘Ria Pratt’ não pintasse seus demônios, como saberíamos e refletiríamos?

Eu consigo ter empatia pela Kim. E consigo imaginar um pouco do seu drama, retratado na tela. Só não posso entender a pisque de alguém que achou legal usar o quadro de uma artista plástica como ela, ou mesmo qualquer outra informação mentirosa, para acender ainda mais a fogueira da estupidez humana e do ódio nas redes. Quem se vale das mentiras pra incitar, provocar confusão e gerar ainda mais raiva num país já extremamente raivoso.

Não, não se trata de achar certo ou errado nada. Trata-se de aprender a aprender. De gritar menos. De deixar de lado as interjeições de espanto e abraçar a reflexão e ponderação nestes dias sombrios. “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”. Nunca me esqueci dessas palavras, de quem as disse e de como ele gostava de contar histórias em forma de arte, em forma de parábolas.

Marcelo Santos é jornalista e escritor. Escreveu para as principais publicações evangélicas brasileiras. Atualmente trabalha como ghostwriter e escreve reportagens para publicações do SESC e da Rede Brasil Atual. É pai de Guilherme, Caio e Gustavo.

--

--