Introdução ao Integrative Business Design

Julio Cesar De Freitas
Integrativa
Published in
6 min readNov 18, 2019

Por Julio Freitas

Como operar e fazer gestão profissional com Design em um momento tão complexo como o que vivemos em todas as áreas da vida humana e da nossa consciência sobre todas as outras formas de vida?

Essa foi a pergunta que me estimulou a escrever esse artigo. Convivemos nos últimos tempos com palavras, termos e expressões que, de tão utilizadas que foram, banalizamos o seu real significado e sentido que essas palavras, termos e expressões trouxeram para nossa compreensão sobre todas as coisas. E claro, inadvertidamente chamados isso de evolução (Opa, evolução! Essa é uma delas).

A ideia aqui não é elaborar uma lista com essas palavras, mas provocar um momento de sensibilidade para refletirmos sobre essa questão. Para isso, selecionei três dessas palavras para explorarmos o significado emergente à partir da junção destas em uma única expressão: Integrative Business Design. E vamos considerar aqui, uma tradução aceitável como Design Integrativo de Negócios.

Agora sim, o significado emergente pós tradução, abre uma janela imensa de oportunidades na inserção de uma cultura de Design no meio corporativo, por enfatizar a relevância do pensamento de Design, construída na escala do indivíduo. O caminho mais fácil e comum seria discorrer isoladamente sobre o significado de cada palavra da expressão, mas nem de longe traria o conteúdo necessário para o potencial reflexivo desse texto. Então, partirei de um cenário onde a vida humana acontece e se expressa. E com ele, refletir sobre essa tal janela de oportunidades que citei anteriormente.

Processos eficientes

O cenário, claro, é a empresa! Constituída operacionalmente por uma dimensão física (prédio), outra humana (profissionais), uma outra de produtos/serviços (o que ela entrega) e por fim a dimensão negócios (da imagem ao faturamento). Temos nesse cenário uma rede medonha com suas várias complexidades intrínsecas. Hum… preciso aqui, cuidar para não ser prolixo demais!

Sem me render a searas como, por exemplo, a do pensamento sistêmico, que embora fundamental para o tema, nos distanciaria do propósito desse texto, vou levar nossa reflexão para as dimensões processuais dos relacionamentos entre profissionais, suas atividades e a qualidade das informações produzidas na rede de tarefas realizadas que definem a qualidade de entrega e de comunicação entre todas as partes envolvidas na operação intencionalmente orgânica das empresas em todo o meio corporativo, independente do setor, segmento ou área de atuação.

É muito comum nos ambientes corporativos, ouvirmos a expressão “silos de excelência”. Quando essa expressão aparece nos diálogos profissionais, sempre tenta explicitar que cada setor da companhia realiza muito bem o que tem que realizar, mas por não “conversar” com os demais setores, o resultado final da cadeia operacional sempre apresenta falhas e muitas vezes indesejáveis prejuízos.

São incontáveis as iniciativas profissionais na tentativa de reduzir os indicadores negativos de toda ordem nos meios operacionais. Tanto a Engenharia de Produção, quando as demais engenharias associadas aos fundamentos de administração, produziram modelos, ferramentas e protocolos com o objetivo claro de promover eficiência nas operações corporativas. E muito se avançou nesse campo com essas iniciativas, sobretudo com o auxílio das soluções digitais que trouxeram mais precisão na elaboração das tarefas e em muitos casos, construíram agilidade e rapidez nas áreas ou setores em que foram aplicadas.

Contudo, uma importante camada dessas complexa cadeia, apesar de escancaradamente existente, sempre foi percebida e tratada como algo que deveria se adaptar às condições inteligentes criadas e declinadas sobre os modelos de gestão cada vez mais sofisticados.

O ser humano é o ponto central

Estou aqui me referindo à camada humana presente em todas as atividades profissionais, mesmo que em fases de planejamento e setup de sistemas e equipamentos. Essa camada, muito diferente das demais (negócios e produção), tem peculiaridades típicas e ainda não presentes nos sistemas e soluções desenvolvidas. Algumas dessas peculiaridades interferem enormemente na fluidez operacional dos diversos modelos de gestão. Algumas delas nos são bem conhecidas como o humor pontual, nível de satisfação pessoal, propósitos individuais e até mesmo sonhos de abrangência familiar. Muitas outras peculiaridades da existência humana estão, até esse momento, muito distante do funcionamento das máquinas e sistemas computacionais. E é por esse motivo que a grande maioria das empresas de todos os tamanhos investem toneladas de horas e recursos na tentativa incansável de alcançar e melhorar a eficiência operacional.

Tudo isso para afirmar categoricamente que o centro do Design Integrativo de Negócios é o ser humano!

Grande novidade, você deve estar pensando! E tem todo direito em pensar assim. Afinal, tudo gira em torno de nós, é o que imaginamos! Mas na verdade, quando estamos em nosso cotidiano profissional, somos “engolidos” pelas coisas sobre as quais nos giramos em torno delas.

Giramos em torno dos espaços profissionais que nos abrigam nas empresas, das tecnologias disponíveis para a realização do nosso trabalho, dos processo pensados para realização eficiente das nossas tarefas e de sistemas computacionais, ou não, para nos comunicarmos durante a exercício do nosso trabalho. Então, na “vida real”, nós é que giramos em tornos das coisas e muitas vezes giramos sem orientação ou mesmo rumo coerente e seguro. Fazemos as coisas apenas porque fazemos. E por fazermos muito a mesma coisa e por muito tempo, nos tornamos super eficientes. Surge então o que chamei acima de “silos de excelência”.

Nesse contexto, o Design dá conta de promover a interface entre os sistemas complexos com as habilidades e inteligência humanas, já o termo Integrative se encarrega de promover a integração inter setorial e intra áreas da organização como um todo. Isso se dá pela identificação e lapidação das “pontes de conexão” (fig. 1), entre cada processo interno na escala das atividades de cada setor, e também entre os distintos porém complementares setores. Isso pode parecer difícil de realizar, mas é fundamental entender que quando não existem as conexões mapeadas e claramente conectadas aos “vasos” de comunicação nos inputs e outputs que definem a trilha de cada evento de processo do negócio, surgem os intermináveis retrabalhos, erros de procedimentos com custos indesejáveis e não planejados.

Figura 01: Alças de conexões primárias, secundárias e seus conectores.

Espaços inteligentes

Além do Design de processos, também giramos em torno do espaços físicos e de administração da operação corporativa. Para isso criamos o Design de Espaços. Estes são ambientes cuidadosamente planejados para as funções a que se destinam, mas também, com especial atenção às pessoas que farão uso dessas instalações. As questões como layout respeitando o fluxo de produção, segurança no trânsito de empilhadeiras, materiais, pessoas ou equipamentos são conhecidas e em muitas empresas já estão super bem resolvidas. Mas o bem estar das pessoas que permanecem várias horas do seu dia e por consequência das suas vidas, nos nossos dias tornou-se fundamental e é fator determinante para os projetos de Design de Espaços, seja nos ambientes de produção ou de administração e negócios.

Comunicação fluida

Por fim, temos a temida qualidade de tratamento, difusão e assimilação das informações sensíveis no ambiente corporativo. Aqui temos no mínimo dois níveis de abordagem. O nível da comunicação corporativa e o nível da geração, trato e fluxo de informações técnicas e sensíveis.

Do ponto de vista da comunicação corporativa, temos hoje todas as tecnologias e meios hábeis para promover uma comunicação limpa e fluida. Mas, na grande maioria dos problemas que ocorrem na empresa, alguém sempre levanta a já conhecida bandeira do “foi um problema de comunicação”. Não, não foi um problema de comunicação! Em minha experiência foi um problema de cultura de relacionamento e comunicação e estes não ocorrem nas tecnologias e meio hábeis. Ocorrem no e entre os seres humanos.

Tudo isso para explicar que o emergente conceito de Integrative Business Design, acima de tudo, surgiu para promover (de maneira sistematizada e metodologicamente amparado), a integração entre as identificadas “pontes de conexão” presentes na complexa malha coexistente de espaços inteligentes, processos eficientes, informações sensíveis e seres humanos que diariamente levam dinamismo, sentido e significado a todas as atividades profissionais desempenhada por cada um de nós durante toda a nossa vida.

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Julio Cesar De Freitas
Integrativa

Designer, Head de Negócios da FLUXE Operações Fluidas e Sócio-Fundador da Eduxe Escola de Inovação e Gestão da Fluidez. Professor Universitário.