Designers se importam demais com originalidade

Acácia Almeida
Interideias
3 min readJul 10, 2016

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Eu sempre sonhei em ser uma bartender. Eu achava que se tudo desse errado com minha vida, esse seria meu plano reserva: me divertir em festas e bares servindo outras pessoas. Parecia ótimo! O problema é que recentemente reparei que essa idéia era só um plano de escape. Uma rota de fuga. Em algum ponto, alguém finalmente veria que eu não era uma boa designer. Veriam que eu estava somente roubando idéias de outras pessoas e mexendo nelas até sair um “Frankenstein” elegante. Esse sentimento acontece com muitos de nós. Enquanto eu estava fazendo estágio no meu intercâmbio pros EUA, fui a uma palestra na sede do GitHub com Wilson Miner. “Steal this Talk” (Roube essa palestra). Ele me deu uma ótima visão sobre colaboração e originalidade. Mas, na verdade, um grande pedaço dela era simplesmente sobre ter auto-estima.

Wilson começou sua carreira de designer na Apple, e no começo ele era como eu: com medo de ser descoberto como um impostor. Tudo que ele fez no passado era inspirado por produtos feitos “by Apple California”. E agora, o que é que ele faria dentro da Apple? Quem é que ele iria copiar? Talvez outros funcionários? Depois de algumas semanas escondendo seu trabalho de outras pessoas, ele decidiu dividir suas idéias. Pegar pedaços de soluções feitas por outros e colocar nos seus projetos, e também dar sua opinião sobre os projetos de outras pessoas. Wilson começou a dividir e colaborar, aceitando idéias de outros no seu processo pessoal e perdendo um pouco de sua auto-consciência excessiva. No fim, tudo era lançado pela “Apple California” de qualquer forma, não é mesmo?

Acredito que o processo criativo é menos sobre “originalidade” e mais sobre “reciclagem”, “reaproveitamento de ideias”. Eu concordo quando ele disse que “designers se importam demais com originalidade”. Nós não somos todos ladrões impostores, mas algumas vezes a melhor solução para o seu problema já foi criada e lançada no mundo, e o melhor que você pode fazer é adaptar seu projeto a essa realidade. Aos poucos, ao longo do processo criativo, e aplicadas as devidas restrições da realidade, essa tal idéia vai se transformar em algo novo, algo só seu. A colaboração entre profissionais tem o mesmo tipo de lógica, mas num ambiente maior. É uma questão de acreditar no seu time, entender o melhor que cada um pode fazer, não se apegar a sua idéia como se fosse um filho, desapegar de seu ego e misturar isso tudo em um projeto que não tem um dono, um projeto com a cara de todo mundo.

No meu caso, a melhor forma de começar a encarar meu problema de auto estima foi com um projeto em grupo. Eu dei sorte de poder trabalhar com um dos meus mais queridos amigos que é declaradamente chamado (contra a sua vontade) de um gênio do design, Leandro Mendes. Eu estava muito animada pra por minhas habilidades em prova e muito determinada a fazer o meu melhor por ele, pra não ficar pra trás na sua visão de perfeccionismo. Por 48 horas nós fizemos um brainstorm, misturamos os clichês de nossos repertórios e criamos algo novo. Algo nosso. Eu não consigo dividir o que ele idealizou naquele projeto e o que eu criei, foi algo realmente colaborativo. Aprendi muito sobre meus pontos fortes, minhas fraquezas, e sobre o processo de criação naquele dia. E depois que esse projeto foi selecionado e mostrado no blog da Adobe, eu reparei que eu nunca seria uma bartender. Eu nem gosto tanto assim de beber.

Referências e Links

http://wilsonminer.com/ Site Pessoal

http://www.acaciadealmeida.com/#/inspire-workshop/

http://adobe-pbd.com/us/experience/detail?articleId=28

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Acácia Almeida
Interideias

Industry thought leader on pixel pushing. Product designer at GoCardless