O Design baseado no origami: arte e ciência nunca foram tão bem combinados

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Interideias
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4 min readSep 12, 2016
Foto por Tertulia Fotografia

A entrada: um plano, uma peça simples de papel, nada mais.

A saída: toda e qualquer possibilidade.

Isso é o origami. Uma forma de arte nascida da prática de dobrar tecidos na China no século VI, para crescer e se solidificar no Japão no século XIX, e do oriente partir para o resto do mundo a partir dos anos 50.

Nessa grande transição histórica, o origami não mudou apenas geograficamente mas, e especialmente, em sua essência enquanto peça comunicativa.

As dobraduras hoje se transformaram da condição de arte representativa para uma imensa ferramenta paradigmática multidisciplinar, trazendo inovação, ciência, tecnologia e sustentabilidade.

“Uma das coisas que nos faz humanos é a necessidade de mudar as coisas. Esta também é a essência do origami: explorar a surpreendente mágica do quanto é possível mudar um papel simplesmente o dobrando.” Robert J. Lang

Estudos em design com o origami remetem a Bauhaus, com o professor Josef Albers, que sempre acreditou na experimentação com as dobras como um grande potencial para novas ideias.

Albers acreditava que o conhecimento dos materiais era potencializado pelo contato com o origami, nos anos 40. Fonte da Imagem

Outro grande precursor do origami pensado em projeto foi o cientista computacional Ronald Resch. Estudos geométricos, os primeiros simuladores computacionais e a intuição pelas dobras em papel foram ferramentas constantes e incrivelmente bem gesticuladas pelo professor da Universidade de Iowa nos anos 60.

Ron Resch já mostrava a importância do origami como processo criativo nos anos 60. Fonte da Imagem

O que temos hoje? O origami aplicado à medicina, com Kaori Kuribayashi e Zhong You, aos satélites e painéis solares com Koryo Miura, a Universidade Brigham Young University e Robert Lang, à computação com Jun Mitani e Tomohiro Tachi, à biologia molecular e nanotecnologia com Rothemund, ao design como um todo com Jum Nakao, Ayaskan, Foldability, Issey Miyake, Mika Barr, e muitos, mas MUITOS outros que podem ser vistos AQUI.

O trabalho de Jun Mitani: origamis criados em computador com o seu software Ori-revo. Fonte da Imagem
Coleção Objeto 12–1, pelo designer croata Matija Cop. Fonte da Imagem
Cadeira Oyster, pelo estúdio Kawamura-Ganjavian. Fonte da Imagem

“Assim, é a alma que tem dobras, que está cheia de dobras. As dobras estão na alma e só existem atualmente na alma. Isto já é verdadeiro no caso das ‘ideias inatas’: são puras virtualidades, puras potências, cujo ato acabado consiste em uma ação interior da alma.” Gilles Deleuze

O papel do designer ganha particular importância hoje ao se preocupar com os materiais e processos. Agora já não basta mais “criar” simplesmente, mas unificar mais com menos. O origami tem sido uma linguagem precisa em produtos que expressa o essencial, o complexo com o simples, o compacto e o expandido, intrínsecos um no outro, indissolúveis, coexistentes. Produtos pensados com o origami ganham cinemática inerente, não se limitando a um formato final, mas a um artefato mutável, que encolhe e expande precisamente como Deleuze descreve no livro “A Dobra”.

“A dobra é o acontecimento, a bifurcação que faz ser. Cada dobra, ação-dobra ou paixão-dobra, é o surgimento de uma singularidade, o começo de um mundo.” Pierre Lévy

AMANTES DE ORIGAMI: UNI-VOS!

Número de publicações científicas sobre o origami separadas por países, maio de 2016. Gráfico gerado pela base de dados Scopus

Não vou mentir: em termos de Brasil e América do Sul, o origami está sendo subestimado pelos artistas, pesquisadores, designers e professores. Se as tecnologias com as dobraduras já foram apropriadas e a área está consolidada há mais de 15 anos nos Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, China, Japão, aqui o assunto é meramente mencionado e investigado com o devido mérito e respeito. PRECISAMOS ESTUDAR MAIS SOBRE O ORIGAMI! Nosso país é muito grande e tem muito a contribuir para o origami contemporâneo, se trata de um conhecimento miscigenado e de misturas nós entendemos mais do que ninguém. Mas para isso, precisamos nos unir e conhecer mais sobre o que é dobrar e as inúmeras possibilidades do design baseado no origami.

Foto por Luana Tumiatti. Ensaio Origami and Nature

Dica: Oficinas com origami estão sendo realizadas anualmente no Interdesigners, Unesp de Bauru, desde 2009. É uma ótima chance para conhecer as dobraduras e aprender coisas novas.

Leituras recomendadas

Corpo e Origami: Um estudo sobre dobras e sua inovação dentro da arte contemporâneaSamanta Aline Teixeira, Caroline Apolinário Gomes, Luis Carlos Paschoarelli, Milton Koji Nakata, Monica Moura

Origami Contemporâneo: Um estudo sobre a arte em dobra e sua mutabilidade prática Samanta Aline Teixeira, João Fernando Marar, Dorival Campos Rossi

Projeto Vão: Instalação que visa hibridizar linguagens artesanais e contemporâneas, atualizando o vão através da dobra, costura, som e eletrônico TCC de Giovana Milanetto, Lais Mayumi Shiraishi, Samanta Aline Teixeira

Do Origami Tradicional ao Origami Arquitetônico: Uma trajetória histórica e técnica do artesanato oriental em papel e suas aplicações no design contemporâneoDissertação de Mestrado de Thais Ueno

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Pesquisadora de Origami. Estudante de Doutorado na UNESP || Origami reseacher based in Brazil. PhD student at São Paulo State University UNESP.