Open design ou “hͧ̅̌ͣ̃҉͉̬̜̞͔̟̮͙̼̲̬̣̼̳̦̜̭͢͡a̯̦̜͇̮̗̿ͯ͑̍ͫ͛͗̍̌͛̎͘͟͡c̛̖̣̪̣̿́͒ͭ̓ͩͮ̄̈́̊̽̈̑ͩ̓k̶̡̡̤̟̞̠̘̥͉͍͓͉̓͐͒ͧͧ͑̽̋̈͂͢ͅę̸̥̙̝̾̈́̆͗̅ͤ͒̄ͨiͧ̀̊̏̓̋͒̓̂ͮ̅͐ͭͩ̀҉̛̲̻̱̼̭̗̭͡a̶̦͕̣͈̹̰̦͔͂͊̌̔͜͝ͅͅ ̶̢̧͍̫̖̮͖̝͓̫̠͉̪̺͉̒ͩ͊͑ͨ̔͡m̏̌̐̈́ͣ̾ͭͪ̆͐̒ͫ͒ͭ́͏̷̶̰̘̘̭͙͎̮̀ę̛͉̲̪̺̼̗̼̘̤͔̞͚͓̞̔̍̈́̑ͧͣ̏͑͌̑̃ͪ̄́ͨ̿̇́̀͟͡ű̷̗̪̝̞̯̦̗̻̝̻̝͉͎̮ͩ̋ͣ̈̏̓̑ͪ̌ͪͪ͝ ̔̿͌̊̇ͭ̐̈̌̆̇̎͋̈̚̚͏̀͢͢҉̙̬̝̗͉͍͉̳͚̺̫̪ͅc̷̢̨̧͙̯̼̘͉͇̭̪̟̰̟͙͈̯͔̲ͪͤͩͯ̇́͗̔̽̚͢ų̸̂̂̄ͬ͊ͨ͘͏̰̗̩̱ͅ”

Breno Bitencourt
Interideias
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5 min readAug 9, 2016

Hoje a autoria é mais do que nunca tema central, os tópicos sobre plágio se alastram facilmente e se converte numa verdadeira guella de vaidades que alguns colegas plomovem.

Não podemos conceber, num mundo onde é um valor positivo que os fluxos de informação possam fluir livremente, a ideia de criação isolada, algo feito por um único autor. Por isso clamar/chorar/sofrer pela autoria de um projeto, ainda que seja um simples logo ou uma ilustração qualquer soa pouco efetivo, desonesto, de um orgulho e vaidade oportunista frágil.

Essa posição despótica do autor em relação ao plagiador é muito feia, é triste por ignorar e confundir alguns conceitos centrais dessa discussão.

A ideia do plágio vem de uma concepção errônea do que é o território da criação: aprendemos muito cedo a nos vermos como um sujeito isolado e possuidor de uma inspiração criadora, munido de uma habilidade inexplicável, o talento, agindo sobre uma plataforma representativa onde somos a única razão de ser daquilo que é produzido por nós.

Conceitos muito metafísicos para seres de prática, makers como nós.

Pois bem, pra falar de plágio temos primeiro que dar um g͌́̆ͧ҉̜͎͔͚̩̭̥̺͙͈̬̮͔̱͈̳̠͘̕͡l̢̡̛̰̘̜͚̟̥͉͚̭͙͇͉͊̈́̾̒̑̄̋͑̆̀̂̑̓͑̊̒i̶̧̛̥̮͍̜͗ͩͯ̌̐ͣ̾̌̍̆̀̀͘t̸̡̡̘͚͉̘̟̺͓ͧ͋̈́ͤ̃ͨ̀̿̍͆ͭͮ̋ͭͧ͐̊̚͞c̶̃̈́̐̆̐͗͋͢҉̨҉̹̯̲ͅh̓̾͐̎̊̍ͣ͏͝҉̢̘̫͈̹̺͉͇̦̜̹̠̦͈̙̟͠ nisso tudo que é ainda de um ranço, um mau gosto terrível, muito badtrip. É preciso uma revolução espiritual frente ao projeto, converter toda a nossa ânima em glitchis animae.

Não vejo como um exagero substituir essa ideia pobre do artista à espera por inspiração por uma nova espécie de criador/maker/máquina de criar patchworks distribuídos segundo camadas: diversos rios referenciais //dos que roem suas margens e ganham velocidade no meio, tremendas tormentas de fluxos de dados que passam diante dos nossos olhos ao longo do dia (ou se passaram dias?), uma complexa máquina de guerra, hardwares e softwares que fazem máquina com ele; ele próprio uma máquina de maquinar a sí próprio como condição primeira.

Seria todo projeto então uma construção de um corpo sem orgãos e por isso mesmo uma desconstrução do organismos que nos capturam? //podem entender isso como uma metáfora

{+ em DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs — capitalismo e esquizofrenia 2, vol. 3. São Paulo: Ed. 34, 2008. 14. 28 de Novembro de 1947 — Como Criar Para Si um Corpo sem Órgãos}

Talvez nunca tenhamos sido sujeitos, tampouco isolados. Essa análise da atividade de criação talvez passe por uma abertura significativa no espectro do que compreende o ato de criação, e pq deveria ser diferente? Sim, estou dizendo que a ideia do plágio carrega uma prepotência e ignorância típicas de quem não consegue dar esse zoom out e entender onde estamos inseridos.

Se isso soa talvez muito filosófico, faço questão de deixar mais claro, vou ilustrar: talvez a ferramenta mais usada no mundo do design hoje, o Adobe Photoshop é desenvolvido pela Adobe Systems Incorporated e conta atualmente com um time de 14,154 pessoas. Temos como ferramenta principal um complexo amontoado de dígitos binários, como plataforma de criação máquinas digitais que se recriam numa “terra sem lei” que é a internet. Mesmo sendo um orgão distribuído num espaço estremamente estriado esse tipo de ferramenta já deveria ser suficiente pra romper com essa ideia, esse orgulho individual da restrição ao direito de uso sobre do trabalho.

{+ em DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs — capitalismo e esquizofrenia 2, vol. 5. São Paulo: Ed. 34, 2008. 14. 1440 — O liso e o estriado}

É evidente que não somos criadores isolados, é evidente que a ideia de autoria já passou da hora de ser d̸͜e͜s̶ç̵o̡͢͠n̢͢f̨͜i̛̕g҉͡ur̛a͘͝ḑ̴a̧̨͟. Não somos autores, definitivamente. //de onde vocês tiraram essa palavra horrível?

Abraçar a completa falta de controle que temos em relação ao que criamos e somos é de uma humildade incrível e muito necessária nos dias de hoje, dias de projetos coletivos e criações de enunciados não-lineares e a-significantes.

Não trabalhamos com projeções ou representações e muito menos temos qualquer controle sobre os agenciamentos que isso tudo produz //e pq não dizer dos que se produzem em nós. De fato a palavra design, arte ou o que quer que sirva como veículo pra designar a ato de criar são apenas ‘maneiras de falar’ e o código verbal tira toda a cor e a ânima das coisas.

O que quero dizer com isso é que seu trabalho só adquire velocidade em razão do seu poder de se conectar com outros, outras máquinas, fazer fluir intensidades, ganhos de potência.

E por que se isolar? Acaso não percebeu ainda que a criatividade é uma máquina de guerra e não um aparelho de estado?

{+ em DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs — capitalismo e esquizofrenia 2, vol. 5. São Paulo: Ed. 34, 2008. 14. 1227 — Tratado de nomadologia: a máquina de guerra}

Nunca foi tão importante isso de misterioso que se coloca entre os pontos, o que podemos chamar de design relacional. Esse deslocamento se faz fundamental pra falarmos sobre autoria/plágio.

Te proponho, querido amigo designer //feat. Deleuze & Gattari, um exercício em forma de kōan (公案) zen budista: como fazer esse transito do projeto de colocar pontos entre duas linhas a um projeto que traça linhas entre dois pontos?

É interessante como Deleuze descreve no livro Conversações, em carta a um crítico severo a maneira como ele cria um conceito:

“Eu me imaginava chegando pelas costas de um autor e lhe fazendo um filho, que seria seu, e no entanto seria monstruoso.

Que fosse seu era muito importante, porque o autor precisava efetivamente ter dito tudo aquilo que eu lhe fazia dizer.

Mas que o filho fosse monstruoso também representava uma necessidade, porque era preciso passar por toda espécie de descentramentos, deslizes, quebras, emissões secretas que me deram muito prazer.”

O ato de criação não pressupõe um “aceite” do autor como diz Paulo Ghiraldelli num breve vídeo onde ele analisa esse trecho acima mencionado.

É provável que essas palavras já tenham saído da boca de artistas mais interessantes do que eu: não existe criação livre sem uma grande dose de irresponsabilidade.

Um tipo de irresponsabilidade que nos faz livres e converte qualquer máquina em máquina de realidade possível, máquinas de cortes a-significantes, etc…

Não, eu não fico feliz quando vejo um trabalho meu sendo copiado. A ideia do decalque, agravado pela intenção quase sempre de uma vantagem comercial de usurpar um trabalho que não é seu é bem zuada e isso não tem a ver com hackear ou colaborar pois é exclusiva: uma exclusividade forjada pro benefício individual. Há que se entender que o design hackeado é aberto, é open design. Se existe um Q de roubo nisso é talvez por similaridades bastante superficiais, análises enviesadas…

Mas também não me sucede nada de orgulho, vaidade ou ressentimento pela atitude. Na real me deixa insatisfeito e frustrado em perceber que meus trabalhos não são hackerfriendly, não são ainda uma plataforma ou um meio onde o designer se torna um facilitador criativo.

Estamos falando de no mínimo coautorias, fim da relação produtor/consumidor com invenção do prosumer.

Traduzindo tudo isso em termos mais convidativos eu diria que toda criação nos dias de hoje deve vir, ainda e no mínimo, com um singelo convite à colaboração. //o que é também bastante cafona

Então por favor: hackeia minha mãe, hackeia meu pai, hackeia meu cu, hackeia minha vida, pode hackear, hackeia tudo que você quiser porque eu sou completamente vulnerável. É isso mesmo, hackeia.

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Breno Bitencourt
Interideias

Breno Bitencourt is an award-winning Logo Designer and Illustrator with 10+ years of experience designing identities for clients around the globe.