Brainstorm de criação de nome para um produto ou feature

Luiza Antunes Fonseca
Inter UX Team
Published in
7 min readMay 23, 2023

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Entrou na minha listinha de “a fazer em 2023” escrever artigos e materiais compartilhando sobre meu trabalho, processos e conhecimento. Recebo muitas mensagens pedindo dicas sobre a área de UX Research, como ingressar, como funcionam alguns processos e espero que produzir materiais sobre o assunto ajude algumas pessoas.

Para o meu primeiro artigo no Medium, quis trazer uma experiência recente de dinâmica sobre a criação de alternativas de nomes para um produto digital.

Pra você, definir o nome de um produto ou feature é responsabilidade de qual área?

Por aqui acreditamos que essa escolha pode e deve ser influenciada pelo time de UX, uma vez que o entendimento claro e intuitivo do produto em si faz parte da experiência do usuário e começa no primeiro contato.

No cenário que vou apresentar, precisávamos de alternativas de nomes que fossem:

  • Mais intuitivos;
  • Mais simples;
  • Menos genéricos;
  • E com associação direta a função do produto.

Antes da atuação do time de UX Research já havia um nome preferido, que vou chamar de “nome velho”, e o nome alternativo criado a partir da dinâmica será o “nome novo”.

Além da dinâmica de brainstorm de nomes que vou contar aqui, uma pesquisa de SEO (estudo para entender como as pessoas realizam uma busca em sites como o Google, por exemplo) foi realizada para compreender o comportamento dos usuários ao buscar pelo produto. Nessa pesquisa, foram levantados dados a respeito do nome antigo que reforçavam sua inadequação ao objetivo de uso do produto.

Antes, gostaria de deixar claro que estou compartilhando um experimento aplicado a minha realidade. Vou contar sobre o processo, os pontos fortes e fracos da dinâmica. Pode ser que você consiga aplicar a metodologia a algum processo na sua vida, trabalho, estudo, etc., e adaptar o que construí para o seu cenário. E pode até ser que alguém já tenha feito o que estou propondo. O objetivo desse artigo é apresentar o meu processo de criação, inspirar pessoas que estejam em uma situação parecida e até mesmo promover a discussão de melhoria do processo.

A primeira coisa que me veio à cabeça quando tive a ideia de executar a dinâmica foi um brainstorming (o famoso toró de ideias), mas como executar esse brainstorm? Imaginei que ficaria muito solto pedir para as pessoas apenas gerarem alternativas de nomes, sendo que tínhamos objetivos a cumprir.

Inspirado no duplo diamante, geramos várias ideias a partir de processos predefinidos, afunilamos as alternativas e as aprimoramos para, no fim, definirmos até três propostas.

Duplo Diamante da dinâmica. Fonte: Luiza Antunes

A dinâmica ocorreu remotamente, pela plataforma Miro. Dentre os participantes, tínhamos um representante da área de negócios e um representante da área de marketing, e quatro de UX (um de cada especialidade, como: Writer, Researcher, Product Designer e Metrics).

Primeira etapa: Contextualização

Inicialmente, foi apresentado o contexto do produto: o que era, como funcionava e as telas de onboarding do protótipo. Também foram mostrados dados de pesquisas já realizadas internamente sobre a percepção de usuários em relação às palavras utilizadas no “nome velho”, o estudo de SEO e informações de mercado sobre a abordagem do produto por outros players. Após a apresentação do contexto, expliquei o objetivo da dinâmica e como ela funcionaria.

Há um ponto de atenção a ser considerado nesta parte: a explicação prévia de toda a dinâmica criou um spoiler do processo e fez com que alguns participantes adiantassem as próximas etapas que seriam executadas. Idealmente, seria mais adequado não explicar toda a dinâmica no início, e sim passar as coordenadas no decorrer da atividade.

Imagem ilustrativa sobre a dinâmica. Fonte: Luiza Antunes

Cada participante tinha o seu nome e post its com cores separadas em uma área. Por exemplo, Camila tinha post its laranja, Bianca post its brancos e Pedro post its vermelhos. No centro da dinâmica estava o nome velho do produto. Cada participante tinha 8 minutos para explicar o produto de forma clara e concisa e uma única frase, podendo gerar uma ou mais alternativas.

Segunda etapa: Geração de ideias

Após os participantes gerarem frases explicativas sobre o produto, o próximo passo consistiu em reduzi-las para apenas 5 palavras, em um prazo de 2 minutos. Em seguida, as frases foram novamente reduzidas, desta vez para 4 palavras, e assim sucessivamente, até se atingir um tamanho que correspondesse ao resultado desejado para o nome do produto. No caso da dinâmica em questão, o moderador solicitou até 2 palavras como limite para redução da frase, mas fica a critério de cada moderador entender a quantidade necessária para redução.

Exemplo: Suponhamos que o “nome velho” do produto seja 'Transfira já' e precisamos sugerir um nome alternativo para o produto. O participante escreveria 'Você consegue transferir seu salário de um banco para outro' como a frase explicativa para o produto. A próxima etapa seria cortar palavras da frase até que ela tenha 5 palavras, como 'Transferir seu salário para banco'. Depois para 4 palavras, como em 'Transferir salário para banco'. Em 3 palavras a frase poderia ser 'Transferir salário banco', e em 2 palavras, 'Transferir salário'. Com a solução gerada, a pessoa poderia adaptar a frase para algo que faça mais sentido, como 'Transferência de salário' e esse seria o novo nome gerado como solução.

Exemplo do funcionamento da dinâmica. Fonte: Luiza Antunes

Terceira etapa: Votação das soluções

Para convergir, transferimos as novas alternativas para um quadro, onde realizamos uma votação para escolher os melhores nomes, segundo a opinião dos participantes. Cada participante tinha 2 votos e, como resultado, tivemos 7 soluções com maior número de votos, ou seja, todas que tiveram mais de 2 votos. Os participantes iniciaram um momento de discussão para destacar os pontos positivos e negativos de como cada nome proposto pode ser percebido pelos usuários. Essa discussão é muito importante para comparar as alternativas, já que pessoas tem contextos e referências diversas podendo gerar mais percepções, interpretações e pontos de atenção diferentes. Quanto mais diversificados são os backgrounds das pessoas convidadas para a dinâmica, mais amplas serão as percepções e os pontos a serem considerados.

Após essa discussão, ficou clara a necessidade de mais uma sessão da dinâmica, em que poderíamos com mais organização, criticar diversos pontos (positivos, neutros e negativos) em cada solução e entender o peso das críticas para afunilarmos ainda mais as soluções finais.

Ilustração do afunilamento da dinâmica. Fonte: Luiza Antunes

Quarta etapa: Critique

Para a quarta etapa da dinâmica, preparamos um quadro com todas as soluções finais da votação.

Em 10 minutos, as pessoas preencheram pontos positivos e negativos em post its verdes e vermelhos (respectivamente). De forma geral, foram preenchidos mais pontos negativos do que positivos para cada alternativa. Dois nomes que não tiveram nenhum ponto positivo foram eliminados. A partir do nome que teve maior quantidade de comentários positivos, foram geradas novas alternativas de nome, a fim de resolver os pontos negativos dele levantados.

Exemplo: a palavra dinheiro pode ser associada a dinheiro em sua forma física, mas se o dinheiro for dentro do aplicativo, o dinheiro é “virtual”, pois o usuário vai receber o dinheiro em sua conta bancária. Nesse caso, poderíamos trocar a palavra “dinheiro” por “conta” no nome do produto.

Imagem ilustrativa dinâmica de critiques de nomes. Fonte: Luiza Antunes

Como resultado, chegamos em 4 soluções finais (não conseguimos chegar em 3 soluções finais, como de proposto, pois tinham pequenas variações de pronome que inviabilizavam a eliminação de um termo) que serão analisadas pelos responsáveis pelo produto para a definição final do novo nome.

A dinâmica cumpriu o objetivo de chegar em um nome intuitivo, simples e não genérico, que se associa diretamente à função do produto. Com esse nome, o usuário pode reconhecer rapidamente o produto dentro do Super App, compreender a sua finalidade e utilizá-lo quando tiver interesse real, evitando mensurações equivocadas de cliques, expectativas frustradas e insatisfação do cliente.

Espero ter ajudado caso tenha algum processo de geração de nome ou alternativa de nome para o seu produto!

E retomando a pergunta feita no início do texto, para você, definir o nome de um produto ou feature é responsabilidade de qual área?

Comenta aqui como que essa definição de nome funciona na sua empresa. Geralmente existem quantas áreas envolvidas? E UX participa dessa definição? Acha que UX faz diferença nesse valor? Se quiser estender essa conversa no Linkedin só me chamar clicando aqui.

É isso, um beijo da Ani … Luiza!

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Atuamos com UX/ UI Design, criando produtos que simplificam o dia a dia de milhões de pessoas.

Luiza Antunes Fonseca
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Written by Luiza Antunes Fonseca

Designer e UX Researcher, a fim de difundir conhecimentos e realidades de pesquisa no mundo do UX.