#PraTodosVerem: a imagem mostra uma mão segurando uma vela já no fim de sua queima. Tirada por Eyasu Etsub e disponibilizada no Unsplash.

A morte em tempos de pandemia

Por João Pedro Paravidino

Joao Pedro
Interfaces Revistas
3 min readDec 8, 2020

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A morte deveria, em tese, ser tão normal e, de certo modo, aceitável quanto a vida para o homem (até porque se há vida, haverá, necessariamente, a morte no futuro), ser humano, aliás, que se diz racional, em detrimento de emocional, quando em relação aos outros animais. Existem, no entanto, diversas formas que os indivíduos tentaram fugir dela, sendo a filosofia existencialista, talvez, a maneira mais “direta” de encará-la. Por outro lado, existem também as religiões, que demonstram que a morte orgânica não é, afinal, morte.

O filósofo existencialista Albert Camus, em seus inúmeros livros e ensaios, se refere à morte tão calma e normalmente quanto à vida, fato que torna suas leituras, para muitos, até “desconfortável”, de certa maneira. O absurdismo, corrente existencialista defendida pelo filósofo, afirma que a busca por sentido da vida pelo ser humano é impossível, pois mesmo que esse sentido exista, não é factível que será encontrada, e isso é demonstrado em diversas de suas obras, como logo no começo do livro “O Estrangeiro”, ou em sua aclamada obra “A Peste”. Por exemplo, em uma de suas famosas frases, ele diz que “Os flagelos, na verdade, são uma coisa comum, mas é difícil acreditar neles quando se abatem sobre nós. Houve no mundo igual números de pestes e guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram as pessoas igualmente desprevenidas”. Isso demonstra a momentânea incapacidade que os humanos têm de aceitar desastres, sejam eles naturais ou causados por ele próprio

Por outro lado, há as outras maneiras, já citadas, de escapar, pelo menos psicologicamente, da morte, ou seja, as crenças, religiões, essa maneira é também chamada de “suicídio filosófico” pelo filósofo Albert Camus. No Brasil, antes da chegada dos portugueses, cada tribo tinha sua própria cultura e religião, porém, com a descoberta do país, chegou o cristianismo, que domina até a modernidade, compartilhando espaço com várias outras crenças nos dias de hoje. Em 1857, o professor e cientista Hippolyte Léon Denizard Rivail — que viria a ser mais conhecido pelo seu pseudônimo, “Allan Kardec” — lançou o “livro dos espíritos”, depois de procurar saber e entender — primeiramente com o intuito de mostrar que era uma farsa — o fenômeno das “mesas girantes”. Depois de entender que, de fato, se tratava de espíritos — o professor fez experimentos e perguntas em línguas as quais ninguém mais na sala entendia, fazia a mesma pergunta para várias pessoas desconhecidas entre si, entre outros, e as respostas sempre batiam -, o professor conseguiu lançar 5 livros tratando sobre a morte orgânica, até que viesse a desencarnar em 31 de Março de 1869. No Brasil, o espiritismo ganhou notoriedade com o famoso médium Chico Xavier.

Com isso dito, percebe-se que o acontecimento tão natural quanto a própria vida, é ainda um tabu, ou, em maior escala, um desespero, para a humanidade, e que o homem busca, constantemente, fugir dele. De fato, para o autor do texto, o único tipo de morte existente é a orgânica. Para outros, porém, a vida só é uma e, igualmente, quando o indivíduo “morre”, ali tudo “acaba”. E essa é a beleza da humanidade, cada indivíduo com sua crença, sua diferença, e assim ela evoluiu.

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