#PraTodosVerem: a imagem mostra, ao fundo, uma bandeira preta com a frase "Black Lives Matter" [Vidas Negras Importam, em inglês], em letras brancas, presa em uma cerca. Em primeiro plano, um homem negro de camisa branca, bermuda, tênis e máscara caminha, da esquerda para a direita, ao centro. A foto é de Clay Banks.

Vidas Pretas Importam, somente uma hashtag ou um movimento real para mudança?

Uma batalha diária contra o racismo na nossa sociedade

Arthur
Interfaces Revistas
3 min readNov 23, 2020

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Joelho pressionando seu pescoço no chão. Policiais entrando na sua casa atirando. Não consigo respirar. Essa é a realidade de uma grande parte das pessoas pretas. Durante o cenário da pandemia vimos diversas questões serem levantadas sobre como nossa sociedade pode realmente progredir, melhorar e se tornar mais igualitária. Violência contra a mulher, abuso sexual contra menores, desmatamento, aquecimento global são algumas das questões frequentemente debatidas, mas uma delas ganhou maior visibilidade nos últimos meses, o racismo estrutural existente na nossa sociedade. A hashtag “Vidas Pretas Importam” (ou Black Lives Matter) levantada em diversas redes sociais, teve como objetivo ajudar a população preta a combater o constante racismo que sofre, principalmente, em abordagens policiais.

A hashtag teve maior repercussão com o movimento ativista “Black Lives Matter”, que teve sua origem nos Estados Unidos em 2013, após a absolvição de George Zimmerman, segurança de um condomínio, pela morte de um jovem negro, sob a alegação de que atirou em legítima defesa. Esse movimento, desde então, continuou protestando e tentando combater a constante violência sofrida pela população negra nas ruas e em operações policiais. Essas violações do direito dessa parcela da sociedade podem ser relatadas na realidade brasileira, na qual a população vê a cada dia notícias sobre o racismo que persiste.

No dia 18 de maio de 2020, João Pedro Mattos Pinto foi atingido por um dos mais de 60 tiros de fuzil que alvejaram a casa de seus tios, durante uma operação policial na comunidade do Salgueiro. O corpo do adolescente foi removido do local de helicóptero pelos policiais e só foi encontrado pela família 17 horas depois, no posto do IML (Instituto Médico-Legal), em São Gonçalo. Antes, o corpo de João Pedro foi levado para o heliporto da Lagoa, na Zona Sul do Rio, distante cerca de 20 quilômetros do local da operação.

Mais uma de muitas vidas pretas inocentes foi tirada pela constante violência policial que a população negra tem que enfrentar diariamente e nada realmente é feito para que esse racismo estrutural seja destruído em nossa sociedade. Ver as pessoas postarem nos seus stories no Instagram ou tweetarem a hashtag, me fez refletir sobre se realmente essas pessoas se importam com as vidas das pessoas pretas ou se estão postando apenas para não passar uma imagem de racista e seguir a moda do momento. Além de uma mudança interna, é preciso que as instituições que comandam e organizam a sociedade sejam reformuladas.

Precisamos fazer mais do que apenas postar uma hashtag na rede social, precisamos parar de fazer comentários racistas, precisamos parar de ser coniventes com atitudes racistas de pessoas da nossa escola, faculdade ou trabalho, precisamos protestar para que realmente essa onda de violência tenha um fim, além de tudo, precisamos mudar em nós mesmos a estrutura racista em que fomos criados. Infelizmente, a escravidão ainda reflete muito no comportamento das nossas instituições e no das pessoas. A pessoa preta é vista como alguém com grande potencial para o mal e como inferior. Enquanto vivermos nessa estrutura racista e não obtivermos uma real mudança tanto em nós, quanto nas instituições, o movimento Vidas Pretas Importam continuará sendo apenas uma hashtag e não uma ação para um futuro melhor.

Arthur Watters é graduando em Direito na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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