Frei Caneca e o desafio de nadar contra a corrente

Rádio pública só saiu do papel em 2016, 60 anos após ser criada. “Estamos juntos, continuo com essa missão, e vamos em frente”, defende produtora

Ana Beatriz Morais
interjor2019
3 min readMay 29, 2019

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Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

Em um cenário de desmonte na comunicação pública, manter um sistema de radiodifusão público no ar tem sido um ato de resistência, e a Rádio Frei Caneca é um exemplo vivo. Apesar de ter sido criada em 1956, a rádio passou um longo período adormecida, só funcionando em 2016. Em junho do mesmo ano, passou a transmitir sua programação ainda experimental e, só em 2018, a rádio entrou no ar com o microfone aberto.

O processo de tirar a rádio do papel, desde o princípio, tem sido participativo, junto com a sociedade civil, não apenas da gestão. A partir desta sociedade, foi formado, em 2014, o primeiro grupo de trabalho, e depois de uma série de reuniões, a elaboração do documento intitulado “Proposta da Sociedade Civil para a Frei Caneca FM”, com o objetivo de ajudar na gestão, programação e financiamento para o funcionamento da rádio.

“A proposta da rádio, hoje em dia, vinculada à Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR), é que ela passe a ser uma empresa pública vinculada à Prefeitura do Recife, mas com autonomia para gerir recursos, para receber recursos focados na atividade da radiodifusão pública”, diz Maíra Brandão, produtora da Rádio Frei Caneca.

A rádio precisa ter um papel educativo, de uma informação que seja pedagógica

Foto: Aimée Ximene

Apesar de a comunicação pública estar na contramão do cenário nacional atual, ainda tem a criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que traz um fortalecimento para veículos e emissoras públicas. “A criação da EBC foi um impulso muito forte para emissoras públicas, na época que houve um movimento de autonomia e fortalecimento da comunicação, e do entendimento da importância da comunicação para a cidadania. Foi muito instigante para todas as emissoras públicas”, diz Maíra.

A missão de um veículo público é clara: levar conteúdo de qualidade para a sociedade, mas, em tempos de desmonte, é sempre bom lembrar de sua importância e, sobre isso, Maíra fala que “a rádio precisa ter um papel educativo, de uma informação que seja pedagógica”. “Utilizar desse espaço de comunicação para abrir um diálogo com a sociedade. Entender as pautas em questão e como abordá-las, trazendo elementos para que as pessoas possam criar suas referências críticas. ”

Hoje a Rádio Frei Caneca conta com uma equipe de 15 funcionários, entre profissionais e estagiários, voltados para a sua construção. Juntos, esses profissionais pensam da programação à relação com a sociedade civil organizada. “Este momento nos coloca em contato com os pares. Quem está nessa frente também se abraça, a fim de fortalecer essa rede e dizer: estamos juntos, continuo com essa missão, e vamos em frente”, defende a comunicadora.

Nice Lima, apresentadora do programa Salada Pop, fala um pouco mais sobre sua rotina na rádio no vídeo abaixo:

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