Plano Nacional de Internet das Coisas — Parte 1

Bruno Oliveira
Internet das Coisas
6 min readAug 13, 2019

Com a publicação do Decreto nº 9.854, de 25 de junho de 2019, também conhecido como Plano Nacional de Internet das Coisas, estima-se um crescimento deste tipo de tecnologia no país. Para entender melhor o impacto que este decreto pode trazer, primeiramente é necessário entender o estudo prévio, realizado pelo consórcio McKinsey, CPQD e escritório de advogados Pereira Neto & Macedo. A Parte 2, com a Análise do Decreto, encontra-se AQUI.

Estudo “Internet das Coisas: um plano de ação para o Brasil”

O estudo buscou traçar um diagnóstico do estado atual de Internet das Coisas no Brasil, baseado em quatro fases: (i) Diagnóstico Geral e aspiração para o Brasil; (ii) Seleção de verticais e horizontais; (iii) Aprofundamento e elaboração de plano de ação (2018–2022); e (iv) Detalhamento das principais iniciativas do plano de ação.

Em linhas gerais (o material é muito denso e cheio de análises e conteúdo), o estudo apresentou algumas análises interessantes sobre o cenário atual. A primeira análise foi um benchmarking com outros países e a situação do país em alguns rankings relevantes para o tema. No geral, o Brasil criou um plano específico as necessidades locais, com grandes influencias do posicionamento da União Europeia (pelo menos na minha humilde visão). Vejamos os fatos:

Se considerarmos o benchmarking quanto as iniciativas e políticas públicas, é possível verificar a classificação dos países em quatro modelos diferentes. Pelo que sabemos hoje do modelo brasileiro, ele segue as diretrizes do quadrante 3, isto é, aumentar a competitividade (falamos bastante de produtividade) e gerar bem-estar à população (multi propósito).

O Brasil optou por seguir um papel ativo em relação a IoT. O Governo faz questão de estar presente nas tomadas de decisões, grandes investimentos e iniciativas de regulação — além do investimento na geração de recursos humanos capacitados para fomentar este mercado crescente.

Outra análise importante do estudo foi em relação ao quão preparado o país está para receber novas tecnologias de IoT e implementar sistemas baseados nela em larga escala — principalmente considerando que o posicionamento do país é estimular IoT através de iniciativas governamentais.

Segundo o estudo, hoje o Estado disponibiliza poucos serviços online, ainda falta maturidade para o governo brasileiro em lidar com serviços providos pela Internet.

Além da questão dos serviços governamentais, o país ainda possui alguns problemas de infraestrutura para sustentar grandes investimentos e projetos de IoT no país.

Um outro desestimulador de grandes investimentos em IoT no país é a questão fiscal. O país possui grande dificuldade prover crédito para as empresas, de gerar burocracia e de exigir um grande montante de impostos que não possuem retorno efetivo para os contribuintes.

Em termos de demanda, foi levantado pelo estudo que a área que mais exige o investimento de IoT provavelmente será a área da Saúde. De acordo com a pesquisa, é a área que é tida como a mais importante pelos cidadãos (junto com a educação) e a que mais gera insatisfação — e por isso deve ser tratada com urgência.

Além do foco na área de saúde, o estudo levantou uma série de cases que já foram/estão sendo realizados no país, e devem estar na visão do governo na primeira onda de investimentos:

Importante ressaltar que, para definição do escopo do que é um case/projeto de IoT, o estudo considerou algumas características básicas:

Outra preocupação do estudo foi levantar toda a questão de infraestrutura, protocolos e sistemas que já existem e vão continuar suportando a nova estrutura de Internet das Coisas no país. O primeiro grande passo, foi definir as principais formas de conexão e estruturas de redes possíveis no ambiente de IoT (segue alguns exemplos abaixo):

Definindo o escopo do que é um case de IoT e os limites do que é a conectividade que pode ser usada nesses sistemas, o estudo considerou também os principais players atuantes hoje no mercado brasileiro. Segue alguns exemplos abaixo em algumas verticais e horizontais do cenário de IoT:

Pensando em termos de retorno que o IoT pode trazer para o país, o estudo trouxe também algumas projeções para a economia brasileira:

Além disso, começa a traçar algumas vantagens e iniciativas que podem ser implementadas em algumas das áreas prioritárias:

E dentre os planos de ações propostos para o governo brasileiro, está a criação de uma estrutura de governança robusta para poder sustentar o desenvolvimento de todo o ecossistema de IoT no país. Dentro da estrutura de governança, a ideia é gerar algumas ações estruturantes, incluindo projetos mobilizadores, que irão criar estruturas que ajudaram a gerir e organizar cada vez mais as iniciativas e andamento das atividades do Plano Nacional de IoT.

Basicamente, em linhas muito sucintas, foi isso que o estudo indicou para o governo brasileiro. Baseado nessas visões (e muito mais), o governo escreveu o decreto e pretende traçar algumas iniciativas para desenvolver o ecossistema de IoT no país. O objetivo dos próximos posts é verificar se toda a expectativa e diretrizes propostas neste estudo foram devidamente endereçadas no decreto publicado. De qualquer forma, o entendimento deste estudo nos fornece um contexto melhor de como foi escrito e do porquê o decreto foi publicado da forma que foi.

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Bruno Oliveira
Internet das Coisas

Auditor, escritor, leitor e flanador. Mestrando em TI, tropecei na bolsa de valores. Acredito nas estrelas, não nos astros. Resenho pessoas e o tempo presente.